Os moradores da comunidade Bela Vista, bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, acordaram cedo nesta terça-feira com o barulho de caminhões de mudança e movimentação policial. Devido a uma decisão da Justiça, as cerca de 300 famílias que ocupam o local há um ano e meio começaram a ser removidas, de forma pacífica. A maioria disse que vai para outras invasões na Zona Norte ou para residências de familiares. Uma manifestação estaria sendo organizada para a quarta-feira, mas não foi confirmada.
No dia 7 de dezembro, os moradores protestaram contra a ordem de reintegração de posse e trancaram acessos ao centro da Capital. Eles negociavam com a prefeitura a transferência para uma cooperativa habitacional e pediram mais tempo, principalmente devido às festas de fim de ano. Porém, a Justiça determinou a reintegração da área de 6,5 hectares para o começo da manhã desta terça-feira. Não houve resistência.
- O povo entendeu que há a necessidade da retirada. Já havíamos feito anteriormente dois contatos aqui na ocupação, e foi isso que garantiu tranquilidade ao trabalho. Gostamos de trabalhar com comunidade, sabemos das necessidades, mas temos de agir dentro da legalidade. Agradeço à comunidade pela gentileza. Não tivemos nenhum atrito - relata o comandante do 20º BPM, tenente-coronel Egon Kvietinski.
Aos poucos, os pertences das famílias começaram a ser tirados de dentro das casas, que foram pintadas com as letras R e D. A primeira significa que os moradores tinham até as 18h para remover tudo; a segunda, que o imóvel já estava pronto para ser demolido. A Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) cortou a fiação pela manhã. Alguns ocupantes falaram que vão acampar em frente à prefeitura.
- Agora nossa casa será na frente da prefeitura, dos palácios, da Câmara de Vereadores, porque pedimos socorro para todos eles e nenhum apoiou. Pedimos que deixassem passar o Natal e Ano-Novo aqui e depois sairíamos sem polícia, sem nada. Eles não deixaram - protestou uma mulher, que não quis se identificar.
Haitianos não têm para onde ir
Entre os moradores da comunidade Bela Vista estavam quatro haitianos, que vieram para o Brasil atrás de oportunidade e agora não sabem onde vão morar. Um deles, Joseph Laneus, 52 anos, recolhia um colchão e poucos utensílios antes de partir. Perguntado sobre o destino, ele disse:
- Nada. Eu não sei.
Um dos proprietários do terreno invadido acompanhava o trabalho de demolição das casas de forma discreta. Sérgio Garcia, bisneto de Baltazar de Oliveira Garcia, nome de uma das principais avenidas da Zona Norte, afirma que não havia irregularidades na área:
- Essas terras são nossas há mais de 100 anos. Os impostos estão todos pagos. Não há nada errado aqui. Tínhamos cavalos e plantação aqui, até que um dia invadiram à noite.