Nas duas últimas semanas, os moradores do bairro Santa Cecília notaram uma mensagem curiosa pintada nas calçadas de três esquinas. A frase "Nessa rua não tem lugar para mim", assinada por uma Fernanda, cadeirante de 48 anos, é um desabafo pela falta de rampas de acessibilidade nos locais. Os dizeres estão no encontro das ruas João Guimarães com Dona Eugênia, São Vicente com a Felipe de Oliveira e João Guimarães com a Felipe de Oliveira.
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- Moro no bairro há 50 anos e faz 15 dias que começamos a ver essas mensagens pintadas na calçada - conta Marina Camini, auxiliar administrativa.
De acordo com a artesã Carmem Vera Lisboa, que mora na frente de um dos dizeres, a suposta "Fernanda" é uma cadeirante que mora no bairro e passa muitas dificuldades de locomoção por ter uma cadeira de rodas manual. A moradora afirma que foi um rapaz anônimo que pintou a frase em forma de protesto para chamar a atenção sobre o tema.
Quem conhece bem as calçadas esburacadas e a falta de rampas de acesso do bairro é Elizabete de Sá, 67 anos. A senhora, que é conhecida por boa parte da vizinhança, é paraplégica desde os nove meses de idade e conta que gostou dos dizeres pintados:
- Acho muito válida essa frase porque mostra um problema pelo qual eu passo todos os dias. A falta de rampas nos dois lados da rua me obriga a andar no meio do trânsito em alguns trechos.
Outro morador que diz conhecer Fernanda é o comerciante Delmar Zambiase, que tem uma lanchonete perto das esquinas pintadas.
- Já conversei com ela e sei das dificuldades que ela tem que superar nas nossas calçadas. Eu não sei se essa é a Fernanda dos dizeres, mas creio que esse é um problema de todos os cadeirantes, das Fernandas, das Paulas, das Joanas, de todos.
A Secretaria Especial de Acessibilidade e Inclusão Social (Seacis) afirmou que não são todas as ruas que permitem um rebaixamento para a construção de uma rampa de acesso. Em muitos casos, existem barreiras arquitetônicas que não permitem o projeto, como postes de luz, placas de rua e tubulações de água e gás - cada caso tem que ser estudado, afirma a secretaria. O órgão também ressaltou que muitas rampas são feitas por proprietários e construtoras. A Seacis fará uma vistoria dos locais citados na reportagem.