A II Guerra Mundial não constituiu apenas um conflito político-ideológico entre democracias e ditaduras, até porque cada um dos dois blocos possuía nações com ambos regimes. E, inclusive, mesmo os conflitos aparentemente ideológicos, religiosos ou étnicos, têm como fundamento algum interesse material.
Desde o início do século 19, as grandes potências disputavam a liderança política e econômica da Europa e do mundo. Em 1918, a Alemanha foi punida e rebaixada, enquanto antigos impérios multinacionais desapareciam na Europa. Pior, os Estados Unidos, que haviam se tornado a maior economia, se recusaram a assumir a liderança política, acreditando que business e politics andavam separados e que o comércio bastava. Mas o liberalismo político e econômico se encontravam enfermos.
A crise de 1929 e a Grande Depressão reduziram seriamente o comércio e os investimentos internacionais, com as nações recuando para o protecionismo, o nacionalismo extremista e o militarismo. Mas a crise golpeou as nações de forma diferenciada. Os EUA detinham um vasto mercado interno, alimentos, matérias primas e fontes de energia, tendo sobrevivido, da mesma forma que os antigos impérios coloniais europeus, que controlavam a maior parte do planeta e suportavam a redução da atividade econômica internacional. A democracia resistiu em ambos grupos, apesar da crise social.
Já a União Soviética se encontrava fechada, em plena industrialização planejada, contando com seus vastos recursos humanos e materiais. Mas as nações capitalistas de industrialização tardia (Alemanha, Itália e Japão) eram superpovoadas e pouco extensas, com limitados recursos naturais, com escassas ou nenhuma colônia. Elas foram duramente atingidas pela crise econômica, viveram fortes tensões sociais e adotaram regimes extremistas: o nazismo, o fascismo e o militarismo agressivo, respectivamente.
A solução para os EUA era retomar o liberalismo em escala mundial, e desfrutar de suas vantagens comparativas. Já o colonialismo europeu não tinha qualquer proposta inovadora, apenas defender seu império ultramarino. Potências com pouco dinamismo, sabiam que qualquer redistribuição de poder lhes seria desfavorável. A URSS, por sua vez, buscava ficar de fora do conflito e torcer para que a guerra provocasse uma nova hecatombe entre os beligerantes, gerando novas revoluções. Por fim, as nações do Eixo buscavam construir, pela força das armas, um espaço econômico regional, o espaço vital necessário ao seu capitalismo nacional. O domínio mundial era apenas um recurso retórico do nacionalismo extremista.
A guerra, todavia, somente poderia ser vencida pela potência que tivesse um projeto global e integrador, os EUA, que combinaram uma economia doméstica de influência keynesiana com uma projeção mundial liberal. E isso foi possível porque em 1945 a indústria europeia, a japonesa e a soviética tinham sido reduzidas a escombros.
*Paulo Fagundes Visentini escreve mensalmente no Caderno PrOA.
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