O ex-prefeito de Porto Alegre João Verle, 75 anos, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), faleceu entre a noite de sexta-feira e a manhã deste sábado. De acordo com informações da assessoria de comunicação do partido, o economista foi encontrado morto por familiares em seu apartamento.
- Fui informado por um dos filhos dele de que o Verle faleceu enquanto dormia e foi encontrado no apartamento. Todos ficaram surpresos, porque ele estava bem. Inicialmente, tudo indica que foi um mal súbito - disse o ex-deputado estadual Raul Pont (PT).
Um dos fundadores do PT no Rio Grande do Sul, João Verle foi eleito vice-prefeito da Capital em 2000, na chapa de Tarso Genro (PT), e assumiu o Executivo municipal entre 2002 e 2004, depois que Tarso renunciou ao cargo para disputar a eleição para o governo do Estado. Antes, foi eleito vereador em Porto Alegre e candidato a vice-governador, em 1986.
Nascido em Caçador (SC) em 29 de novembro de 1939, ele exerceu as carreiras de político e economista. Foi vice-presidente da Sociedade de Economia do Rio Grande do Sul, presidente do Sindicato e do Conselho Regional de Economia da 4ª Região e presidente do Banrisul durante a gestão Olívio Dutra.
Verle foi também professor universitário de Economia. O deputado estadual Nelsinho Metalúrgico (PT), que foi seu aluno na Unisinos, destaca a preocupação do ex-prefeito em apontar a importância da economia na sociedade e como sua formação levou a um perfil considerado "técnico" durante a administração da Capital.
- Como professor, era atencioso: tinha essa preocupação de mostrar para os alunos a importância do trabalho do economista. Também acompanhei, como cidadão, sua administração em Porto Alegre, sempre muito técnica e competente.
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Para o deputado estadual Adão Villaverde, também do PT, Verle era um homem generoso na vida pessoal, ainda que poucos conhecessem esse seu lado.
- O Verle era uma grande figura humana, um cara muito competente como profissional, muito solidário e companheiro.
João Verle, que perdeu a esposa em 2009, deixa cinco filhos. O velório de seu corpo deve ser realizado na tarde deste domingo no Cemitério Parque Jardim da Paz. O enterro está previsto para segunda-feira, às 14h.
Quem foi o Verle que assumiu a prefeitura em 2002
No dia em que assumiria a prefeitura da Capital, no dia 4 de abril de 2002, ZH publicou um perfil feito por Moisés Mendes, atualmente colunista do jornal, com João Verle, à época com 62 anos. Segundo a reportagem o economista "construiu sua imagem como homem de quadro do PT e admite não ter o carisma de Olívio Dutra ou Tarso Genro".
Tímido, discreto, de pouca fala, era um técnico de quem, até então, a população da Capital raramente ouvia falar, mas que seria submetido, a partir daquela quinta-feira e até 31 de dezembro de 2004, à sua grande prova como político.
Catarinense de Caçador, desembarcou em Porto Alegre aos 20 anos. Era uma sexta-feira, 15 de janeiro de 1960. Queria fazer vestibular para Jornalismo, mas - como o curso não tinha aulas à noite e precisava trabalhar - foi parar na Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Foi funcionário da área administrativa da Tecidos Bier Ulmann, na esquina das ruas Uruguai e Siqueira Campos, o mesmo prédio da loja Barriga Verde. Depois, trabalhou num escritório de auditoria, praticamente abandonado pelos donos durante a campanha da Legalidade, em 1961. Quando retornou, um dos sócios, Walter José Diehl, elogiou-o por ter cuidado da empresa, com uma ressalva:
- Você é muito responsável, mas tem o defeito de simpatizar demais com o Kruschev (Nikita Kruschev, líder soviético).
- Minha simpatia é por Mao Tsé-Tung (líder chinês) - respondeu Verle.
O ex-prefeito deve ao pai, Edmundo, o gosto pelo socialismo. Foi dele que recebeu, na adolescência, o livro Salário, Lucro e Preços, de Karl Marx. Garantiu que não entendeu nada. Da mãe, Aracy Falcão, reconheceu a dedicação de quem o ensinou a ler e escrever em casa. Verle só pisou em uma escola aos 11 anos, quando o pai, operário de uma serraria no distrito de Taquara Verde, mudou-se para a cidade de Caçador para dar escola aos quatro filhos. Adiantado nos estudos caseiros, entrou direto na 4ª série, até porque era bom também em matemática, aprendida na fita métrica de costura de dona Aracy.
O então prefeito lamentou que seu nome tenha sido o único da família registrado com "V", quando o correto é Werle. Mas ainda não havia desvendado a genealogia de origem germânica e, pelo menos até então, não havia conseguido aprender alemão. Apurou apenas que os avós e os pais, já falecidos, eram de Passo Fundo.
Verle formou-se em 1965 e fez mestrado em Economia na Universidade do Chile, entre 1967 e 1969. Foi colega de aula de José Serra (PSDB), e aluno da ex-deputada petista Maria da Conceição Tavares. Voltou e presidiu o Sindicato dos Economistas do Estado e o conselho regional da categoria.
Foi secretário municipal da Fazenda, de 1989 a 1992, elegeu-se vereador de Porto Alegre por duas vezes em 1992 e 1996, dirigiu o Departamento Municipal de Habitação (Demhab) de 1997 a 1998 e presidiu o Banrisul até candidatar-se a vice de Tarso. Durante 30 anos, foi auditor de controle externo do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1981 filiou-se ao PT. Pertencia à corrente Democracia Socialista (DS), do então vice-governador Miguel Rossetto.