O barraco junto à ponte da Avenida Getúlio Vargas, no bairro Menino Deus, foi um dos primeiros "imóveis" a entrar no clima de Natal neste ano em Porto Alegre. Guirlandas e uma touca de Papai Noel estão penduradas há mais de uma semana no plástico que protege da chuva o morador de rua que vive ali. Mas é preciso se concentrar para achá-las, no meio de tantos objetos decorativos espalhados pela escadaria que culmina no Arroio Dilúvio.
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- Na primeira vez que eu vi isso, há uns quatro meses, ele tinha organizado suas coisas como uma casa, com uma poltrona, uma mesinha, um guardanapinho de crochê e um vaso de flor - conta a professora Leda Rodrigues. - Me chama a atenção que, mesmo em situação caótica, ele conseguiu montar um lar.
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Embalagem de bombom vazia, flores de plástico, chinelos de dedo com estampa poá e um tênis sem par estão expostos como decoração em uma estrutura de madeira corroída, semelhante a uma escada. Há, nos degraus, um recorte em formato de menina em papel EVA e um ventilador - ainda que não haja energia elétrica ali. O morador de rua também expôs duas bandeiras do Brasil, uma de plástico, outra de tecido.
- Apesar das adversidades, ele é brasileiro - analisa a técnica em enfermagem Joana Muniz, 60 anos.
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Embora tenha mais de uma imagem religiosa, como um Santo Expedido colado na ponte, o morador de rua - que não quis gravar entrevista - não fala em fé, nem em Deus. Fala da sua família. Ele diz se chamar João, nome que está pichado com tinta branca no parapeito da ponte.
- É "João". Entre aspas.
O morador de rua fala pouco sobre seu passado e sua rotina, mas conta que muitos objetos que dão ares de lar à escada foram encontrados nas ruas - alguns, poucos, comprados:
- Eu apenas tenho meu capricho, as coisas da minha vida.
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