Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Podalírio Oliveira Fraga, em Itapuã, Zona Rural de Viamão, latas usadas, papel e pneus velhos têm importância. Antes jogados no lixo, os resíduos recicláveis ganharam nova utilidade a partir do projeto de educação ambiental proposto pela professora e diretora, Maria Teresinha de Oliveira Medeiros, 47 anos, que chegou à instituição no início de 2014 para revolucionar a pequena escola de 34 alunos.
Bióloga por formação, Maria Teresinha é conhecida como Naturalva nas instituições por onde passou. Tudo por conta de um personagem criado por ela. Vestida de verde e com flores na cabeça, a professora incentivava as crianças a protegerem a natureza. Mas foi na Podalírio que se concretizou o sonho de ver uma comunidade inteira participando da iniciativa.
Com criatividade, Maria Teresinha conseguiu transformar em tritons e chocalhos as latinhas de 200g de seletas de legumes, dando vida à banda de lata da escola. Sem recursos financeiros para fundar a primeira banda marcial da escolinha rural em 53 anos de existência, ela arrecadou os "instrumentos" no refeitório da própria escola e propôs a fundação. Na mesma hora, alunos e pais aceitaram a proposta. No dia seguinte, as primeiras latas foram doadas pelas famílias.
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Mas o projeto foi além. As latas amassadas pelas batidas da banda se transformam em floreiras espalhadas pela escola e pelas casas dos alunos, assim como os pneus doados pelos pais. Até a sobra da água do bebedouro é reutilizada para lavar o piso e molhar as flores. Três lixeiras com a identificação para separação das sobras foram instaladas na entrada da escolinha rural. O curioso é que poucas vezes elas são utilizadas, pois o reaproveitamento dos resíduos ultrapassa 80%. Pelas mãos e pelo coração de Maria Teresinha, a Podalírio ganhou consciência ambiental.
Confira em vídeo o depoimento da professora
Professora é só carinho com os alunos
Foto: Mateus Bruxel
Mudança a partir das crianças
"Atuo no magistério há 26 anos, mas a ideia de implantar projetos de educação ambiental surgiu em 2004, assim que me formei em Biologia. Naturalva veio para pedir às pessoas que ajudassem a preservar a natureza. Meu foco sempre foram as crianças, pois elas são capazes de promover a mudança. A gente leva isso aos pouquinhos para o próprio aluno, para a casa dos alunos e, até, para a própria comunidade.
Preservação com o reaproveitamento
O lema é cuidar para preservar porque nós também somos o meio ambiente. A gente tem que aprender a cuidar do outro para a gente poder ser um pouco melhor. Em 2014, saí de uma escola grande para uma rural. As crianças eram quietinhas, e eu sou bem agitada. Então, pensei: "Vou ter que fazer alguma coisa para que estas crianças tenham gosto de estar dentro da escola!". Afinal, a primeira coisa é gostar de estar aqui (dentro da instituição). Foi quando pensei: "Vamos fazer uma banda! Uma banda de lata!".
Nós tirávamos da merenda muitas latas de extrato de tomate, milho e ervilha. Com o projeto, o comprometimento tinha que ser dos alunos. Foi assim que surgiu o projeto de educação ambiental Reaproveitar Para Preservar.
Professora criou a banda de lata
Foto: Mateus Bruxel
Sentimento de dever cumprido
Junto com a banda, vieram as floreiras feitas com as latas que perdem o som depois de se tornarem instrumento por algum tempo e os pneus doados pela comunidade. As latinhas também viram porta-lápis. Se fizermos um cartaz e sobrou papel, a gente vai lá e reaproveita para o próximo cartaz. Quero que eles criem este hábito de preservar, de reaproveitar. E já consigo perceber a mudança do ano passado para cá. Eles não jogam papel de bala no chão, cuidam e tentam sempre se policiar. Hoje, são pessoas bem diferentes. Estão mais comprometidos, responsáveis e se cuidam muito para não faltar à escola. Não tivemos aluno reprovado.
Sinto que o meu dever está sendo cumprido. A banda de lata veio para mudar a comunidade de Itapuã. Eles têm orgulho de dizer que fazem parte dela. Hoje, a gente está aqui, e a gente não sabe se estará amanhã. Um pequeno gesto de carinho e de afeto entre pessoas, e também com a própria natureza, é o caminho do bem. Faz a diferença!"
Sorriso de satisfação
Foto: Mateus Bruxel
A receita de Maria Teresinha
* Respeitar o próximo.
* Dedicar-se ao próximo.
* Trabalhar o coletivo, pois sozinhos não fazemos nada.
* Amar o que faz.
* Diário Gaúcho