Foi-se o tempo que o Anchieta, bairro ao lado do Aeroporto, bem na saída de Porto Alegre, era conhecido apenas por sediar o Centro de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa) e as empresas do setor mecânico e metalúrgico. De cinco anos para cá, ruas como a Ângelo Dourado e Vitor Valpiro, entre outras, foram tomadas por cervejarias artesanais, tornando a região um polo fabril do líquido precioso.
Por ali, atrás de fachadas cinzentas e sem identificação, escondem-se cervejeiros de primeira linha, capazes de furar a fila de competições nacionais e angariar títulos como a cerveja do ano - conquista da Seasons no Festival Brasileiro da Cerveja, com uma edição exclusiva incluindo manjericão na receita (a BasiliCow).
Há algum tempo, por meio de cursos, visitas guiadas e participação em eventos, os então anônimos fabricantes da loira gelada tornaram-se protagonistas do ramo não apenas no centro da cidade, mas também no país e na América Latina. Quem passeia pelas ruas esburacadas e pouco movimentadas do Anchieta mal desconfia que por ali, entre papeleiros e industriários, estão os fabricantes de cervejas como a Lagom, Babel, Tupiniquim, entre outras. Maurício Chaulet, um dos sócios da Lagom, afirma que a discrição ou ausência de letreiros no exterior dos prédios não é um descaso com o turismo, mas uma estratégia de segurança:
- Como o bairro é meio industrial, meio residencial, no final de semana não há muito movimento, por isso ainda não temos grandes fachadas escrito "cervejaria" - explica o cervejeiro.
Veja a localização das cervejarias
Iniciativa quer fomentar turismo
Um trabalho de gestão para incentivar o desenvolvimento local está sendo feito por um grupo de 35 cervejeiros junto ao Sebrae. Por meio da iniciativa, surgiu a ideia de realizar tours cervejeiros, como o que está marcado para o próximo dia 3 de outubro. Na ocasião, visitantes podem pagar para conhecer por dentro os espaços, com direito à degustação e comida, que é o ponto alto do passeio. No dia a dia, visitas de grupos ocorrem por meio de agendamentos pelo site ou por telefone, com antecedência. Eles custam em torno de R$ 10 a R$ 15 por pessoa, incluindo a degustação. Após conhecer como funciona o processo, a vontade de muitos é adquirir os produtos. De outros, é ficar por ali, para trabalhar. Tem gente que acha que funcionário bebe todo dia.
- Não é assim, aqui a gente não bebe em serviço. Beber para nós é coisa séria, para atestar a qualidade - brinca o dono da Babel, Humberto Fröhlich, ao ver os funcionários degustando o produto.
A coisa é séria, mas é leve ao mesmo tempo. Quem trabalha com cerveja o faz porque gosta. É o caso do jornalista Léo Ponso, co-criador da Vitrola, atualmente funcionário da Seasons. Ele largou o jornalismo para se dedicar à atividade. Realizado com a área que atua há cinco anos, diz que o ramo está em franca expansão (as entrevistas em quatro diferentes cervejarias confirmam), e que o bairro que atraiu as fábricas pela facilidade logísticas, valor de aluguéis e baixos impostos tem lugar para mais produtores:
- Atuamos em parceria, trocamos malte, lúpulo, informações. Aqui já cresceu muito desde que chegamos, mas se tem algo que aprendi neste tempo é que ainda temos muito trabalho pela frente - diz o cervejeiro da primeira fábrica do bairro Anchieta.
Recepção calorosa
Como em pontos turísticos de países europeus, durante as visitas, são os próprios cervejeiros que guiam e acompanham os curiosos. Por isso, eles recomendam ligar antes e agendar o horário, para garantir que alguém possa deixar a produção e dar a atenção devida. Como cada cervejaria tem seu esquema e rotina de produção, os horários variam muito. Sábado, em geral, é um bom dia para programar o tour.
Para os mais informais e que dispensam planejamento, vale a pena dar uma incerta no bairro e fazer um tour informal. Essas visitas podem ser gratuitas e possibilitam aprender um bocado sobre o ramo. Sempre há algum funcionário apaixonado pelo que faz disposto a mostrar como é a alquimia de fermentar malte com lúpulo e transformar na bebida mais querida do Brasil.
Empresário carioca de passagem na Capital, Ramiro Delgado aprovou a acolhida que teve na Seasons. Diferente de outras cervejarias que visitou no país, achou a recepção calorosa e informal. Também pudera: foi recebido com um churrasco:
- Para quem gosta de cerveja e vem aqui, é muito melhor essa proximidade. Quando conversa com os donos, entra na fábrica e pega a cerveja fresca, direto da fonte, nem se compara - diz.
Quem está pensando em visitar o local e quer aproveitar o valor mais acessível na compra direta do fabricante, a dica é correr: com a alta do ICMS e outros impostos no Estado, os preços devem subir cerca de 5%.
Serviço
O quê: Tour Cervejeiro
Onde: MaltStore Amélia Telles, Babel Cervejaria, Lagom Brewery & Pub, Baldhead Craft Beers e Cervejaria Oito
Quando: 3 de outubro, das 14h30min às 20h30min
Quanto: O passaporte custa R$135 (inclui transporte, degustação, kit exclusivo e happy hour de encerramento).
Mais informações: Matinê Cervejeira - contato@matinecervejeira.com.br