Moradores do Menino Deus protestam contra insegurança
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Flagrado ao supostamente tentar furtar um carro no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, um homem identificado como Santiago da Costa, 32 anos, foi agredido e rendido por populares na manhã desta segunda-feira. No meio da tarde, ele foi encaminhado para atendimento no Hospital de Pronto-Socorro (HPS).
Segundo informações da Polícia Civil, Costa teve uma fratura no rosto e hematomas na cabeça e pelo corpo. O seu quadro de saúde é estável. Assim que receber alta, o suspeito será encaminhado para registro do flagrante no Palácio da Polícia. Ele deve responder por furto qualificado tentado.
O fato ocorreu na esquina da Avenida Ganzo com a Rua Vicente Lopes dos Santos. Uma moradora do bairro que não quis se identificar conta ter ouvido uma gritaria de "pega, pega" e visto a ação dos populares.
- Quando vimos, tinha uns três caras chutando, e ele foi para baixo do carro para não ser pego. O sentimento é de tristeza por não podermos sair no nosso bairro. Se a polícia não faz nossa segurança, a gente tem de fazer.
Santiago da Costa tem uma lista extensa de antecedentes criminais: receptações, roubos, furtos, lesões corporais, porte de arma e formação de quadrilha. O primeiro registro da ficha criminal do homem de 32 anos aconteceu ainda na adolescência. No Palácio da Polícia, a delegada Andréa Nicotti Gomes Ferreira disse que ele responderá por furto qualificado, sendo o agravante o fato de ter usado duas chaves falsas e conseguido abrir o carro:
- Agora, ele vai ser medicado, volta para cá e começa o procedimento de flagrante. Depois, vai para o Presídio Central.
A delegada afirma que a conduta dos agressores também será investigada. Se for configurado exagero, eles poderão responder criminalmente.
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BM demorou mais de uma hora para chegar ao local
Assim que o suposto ladrão foi rendido, a Brigada Militar (BM) foi chamada - como o atendimento demorou, populares ligaram para a Polícia Civil, que enviou, em cerca de meia hora, dois plantonistas para controlar a situação. Depois disso, a BM demorou ainda cerca de uma hora para enviar duas viaturas e cinco oficiais para dar conta da situação. No local, informaram que o pedido recém havia sido despachado.
Dono do veículo, o segurança particular Bruno Michel Gonçalves, 25 anos, disse não ter agredido o homem.
- Fui entrar no meu carro, e ele estava abrindo o veículo com uma chave micha. Me viu e tentou vir contra. Como sou ex-militar, fui imobilizá-lo, e ele acabou caindo e se machucou. O pessoal veio, mas a gente não deixou chegar perto.
Suposto assaltante é socorrido ao hospital. Foto: Ronaldo Bernardi
Cerca de 50 pessoas acompanharam a cena. Dentro do período de uma hora e 30 minutos que a BM demorou para chegar ao local, uma ambulância do Samu foi enviada para prestar os primeiros socorros ao suspeito, que apresentava lesões e sangrava no rosto e nos braços. Quando a ambulância chegou, ouviram-se gritos de protesto: "queremos Justiça", "onde está a polícia?" e "estão preocupados com a ambulância?". Os populares tentaram impedir a saída da ambulância, que tentava levar o homem, ferido, para o Hospital de Pronto-Socorro (HPS).
André Crasoves, que também mora nas proximidades, conta que é comum a ação de arrombadores, que seriam usuários de drogas. E a falta de policiamento seria costumeira.
- O pessoal está revoltado, mas exagera.
Gilberto Marques, securitário, acompanhou o protesto:
- Moro na Botafogo, estava vindo, passou um pessoal de bicicleta e gritou: "cuidado". A gente está aqui sempre no bairro, não tem horário para assalto e não tem polícia. Está tudo largado às traças.
Jornalista, escritor e morador do Menino Deus, Rafael Guimaraens voltava do supermercado para casa, com a mulher, quando o suposto criminoso começou a ser perseguido.
- Ele jogou o ladrão no chão bem na nossa frente e começou a bater nele. Vieram outros dois, que não o conheciam, nem sabiam de nada, com muita disposição para agredir. Eu estava carregado de sacolas e disse: "vamos esperar a polícia". Não quiseram saber. Mas eu insisti: "na minha frente não vai ter linchamento!" - conta Guimaraens.
Segundo ele, outros moradores corroboraram o pedido dele, e, por isso, não houve linchamento. O escritor diz ainda que foi ameaçado por querer impedir que as agressões continuassem.
- Esse episódio é muito revelador dessa sensação de insegurança que às vezes não é só sensação, é insegurança mesmo. Acredito que o rapaz deva responder pelo crime, mas não ser assassinado por isso. Não justifica a violência - concluiu Guimaraens.
Veja mais imagens do episódio: