O barro vermelho e a terra arenosa imperam em 1,2 mil km de estradas sem pavimentação de Viamão, cidade que tem 80% da área em Zona Rural. Seja no verão ou no inverno, quem sofre as consequências são os moradores, comerciantes e produtores rurais da região.
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Numa medida de emergência, em julho deste ano, o produtor de leite Evandro Rocha, 29 anos, da localidade de Passo do Morrinho, colocou o trator da família na estrada e fez o que o poder público não conseguiu: espalhou três caçambas de saibro, compradas pelo pai dele, Loreno Pereira da Rocha, 63 anos, na via de terra vermelha. Foi a maneira que a família encontrou para não perder a produção depois de dois dias isolada por conta das más condições da estrada.
- Perdemos R$ 3 mil em dois dias sem entregar o leite. Achamos melhor gastar R$ 800 com as caçambas e acabar com os buracos que não permitiam a chegada dos caminhões - conta Evandro.
Asfalto representa perigo em rua de Viamão
Esta não foi a primeira vez que a família resolveu problemas na Estrada Passo do Morrinho. Para solucionar os alagamentos no trecho mais baixo da via, Loreno também pagou para instalar canos em dois pontos por onde passam córregos.
- A gente pede ajuda, e a prefeitura diz que vai fazer. Porém, ficam só na promessa - reclama Loreno.
Carro velho
Na localidade de Pimenta, quem mora ao longo da estrada de mesmo nome enfrenta os panelões e falta de reparos. Por conta destas condições, o agricultor Paulo Borges, 62 anos, que mora em Porto Alegre e tem propriedade em Viamão, prefere colocar na estrada um Monza 1984 e deixar o Prisma 2010 na Capital.
- Passo nesta estrada três vezes por semana, e ela está sempre em péssimas condições. Não me arrisco a colocar um carro bom aqui e perder a suspensão, como já ocorreu - comenta.
Bolicho no prejuízo
Lurdes não recebe fornecedores - Foto: Mateus Bruxel
Com um bolicho centenário na encruzilhada que liga as estradas da Pimenta, da Brahma e da Faxina, a comerciante Lurdes Bonassina, 49 anos, pensa em desistir do negócio que assumiu há sete anos. O motivo: os fornecedores se negam a enfrentar as crateras pelo caminho. Há três meses, ela espera por uma carga de cerveja. Arroz, feijão e óleo, também não chegam há um mês. Para não ficar sem os produtos, ela e o marido vão de carro ao mercado mais próximo, no Centro de Viamão, e compram por um preço 50% maior.
- No verão, comemos poeira. No inverno, comemos lama. Os caminhões temem as estradas até quando não chove. Nem calculo mais os prejuízos para não me desesperar - comenta.
O jeito é vender
A buraqueira foi a culpada por fazer o agricultor Ademar D'Ávila, 61 anos, desistir de plantar melancia nas margens da Estrada da Faxina, no distrito de Águas Claras. Há três anos, ele parou de colher dez toneladas anuais vendidas na Região Metropolitana.
Hoje, está com a propriedade à venda:
- São nove anos de incomodação. Como vou escoar minha produção se os caminhões não conseguem chegar na propriedade? Quem perde é Viamão, por não se preocupar com a Zona Rural.
"Não há o que fazer"
Por ano, Viamão gasta R$ 600 mil em saibro para as estradas rurais, afirma o secretário municipal de Agricultura, Carlos Remi Pacheco.
A cada 40 dias, a prefeitura faz manutenção nas cinco vias com maior movimento - Acrísio Martins Prates, Pimenta, Boa Vista, das Lombas e Capão da Porteira. As outras, só recebem melhoria quando sobra tempo e maquinário - a prefeitura conta com quatro motoniveladoras e três caminhões.
O município aguarda a chegada de recursos federais, via emendas parlamentares, para a compra de novo maquinário.
Sem pavimentação
Zona Rural de Viamão é um verdadeiro rali no dia a dia
A reportagem percorreu 200km de estradas de chão e mostra a difícil situação de quem vive ou trabalha no local
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