Quando tinha cinco anos, o salsicha de estimação do casal Ane Lehmen e Rodrigo Matheus teve um problema na coluna típico de cachorros da raça dachshund. Eles tentaram de tudo - fisioterapia, acupuntura, cirurgia. Não teve jeito: o mascote acabou com os membros posteriores paralisados. Donos de uma lan house na Cidade Baixa, eles decidiram usar o tempo livre para desenvolver protótipos do que seria a cadeira de rodas ideal para o seu mascote. Um ano depois, a solução caseira virou negócio.
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A iniciativa veio depois de orçar um equipamento de tecnologia americana, cujo valor, com taxas, beirava R$ 1,2 mil. Contrariado em gastar tanto, o casal juntou-se ao engenheiro Leonardo Gasperin e, juntos, começaram a testar protótipos. Os primeiros, lembra Matheus, eram com cano e ferro pesado. Com o tempo, foram modificando os materiais para diminuir o peso e aprimorar a estética. Depois de cinco esboços, o cusco Jimi finalmente ganhou sua mobilidade de volta - personalizada e por um custo muito inferior ao produto estrangeiro.
- Na primeira vez que usou a cadeirinha já saiu correndo. Tinha que ver a velocidade que ele andava - diz a empresária.
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Ver o amigo peludo saracotear de novo pelas ruas do bairro boêmio deu mais graça para a vida de Ane e Matheus. Não apenas por abandonar a ingrata missão de segurar as perninhas traseiras com um pano, mas porque, descobriram ali, um novo meio de gerar renda - e tirar uma grana uma mais para investir nos shows de rock que adoram assistir.
Nos últimos dois anos, eles já venderam mais de 50 modelos para pets de todo o país. Na Capital, são indicados por veterinários, protetores de animais e amigos de amigos.
- Já fizeram até vaquinha em ONG para pagar uma cadeira para um cachorro que precisava de adoção - recorda Matheus, sem ter certeza de que a boa ação teve eficácia.
Fotos produzidas ajudam a encontrar lar para cães e gatos abandonados
Os pedidos, recebidos pela internet, vêm acompanhados de informações sobre peso, raça, cumprimento e largura da perna, além de cumprimento e largura da coxa. Os fabricantes pedem que os donos mandem fotos, para garantir a medida certa. Ajustes podem ser feitos na hora da entrega, na loja. Se for à distância, é preciso ter atenção redobrada aos números: certa vez, um erro na medida do animal inviabilizou o uso da cadeira em um produto entregue no Norte do país.
O sucesso do invento tem sido tanto que a dupla sonha em transformar o atual atelier em multinacional. Ao fabricar cadeiras com valores que vão de R$ 250 (gatos) a R$ 350 (cães de porte pequeno), os empresários apostam em um produto mais barato do que o americano com durabilidade semelhante. Além de salsichas como Jimi, atendem gatos que se machucam ao cair de janelas, cachorros atropelados ou animais que, por um problema ou outro, ficam paralíticos. Detalhe: os donos choram de emoção ao receber o produto.
- Lan house não dá muito dinheiro. Hoje as pessoas usam mais para impressão, xerox, jogos (poucos) ou pedem conserto de computador. Se desse para viver de fabricar cadeiras, a gente adoraria - conclui Matheus, feliz ao ver o amigo sobre rodas.