Quem costuma ir ao Parcão, provavelmente, já se deparou com esta figura: um homem alto e graúdo, de cabelos grisalhos, sem camisa, sempre correndo. Amigo do famoso homem de sunga (o corredor Eduardo Viamonte, que costumeiramente é visto correndo com roupa de banho), César Augusto Schmitz Guerra tem 60 anos e corre há pelo menos 20. No período, deixou de ser um obeso para se tornar uma referência em superação e dedicação para muitos dos que passeiam por ali.
Natural de Alegrete, Guerra pesava 170 quilos quando teve um acidente feio com a moto de 350 cilindradas. Na ocasião, os socorristas não conseguiram transportá-lo na ambulância e ele esteve à beira da morte.
Depois de recuperado, investiu em sessões de fisioterapia e hidroginástica até perceber que precisava pegar mais pesado - caso contrário, não ficaria tão leve como gostaria.
Conheça o pai que assumiu a guarda de cinco filhos e cria todos juntos
Conheça o prédio mais colorido da Rua Santana
- Era uma tragédia sair da piscina: tinham que colocar escada de pintor e me puxar com boia. Era uma cena hilária - lembra.
Para fugir do constrangimento, decidiu capitanear a própria reabilitação: consultou-se com uma nutricionista do Sistema Único de Saúde e ensaiou caminhadas, corridas leves, até conseguir correr 30 minutos sem cansar - isso que ainda pesava 130 quilos.
Aos poucos, conseguiu se livrar da vida boêmia e do hábito de comer churrasco todos os dias. Apaixonado por música, ele ouvia os rocks favoritos no walkman. Agora tem um player mais moderno. Correndo 10 quilômetros pela manhã e mais 10 à tarde, condicionou o corpo e a mente até emagrecer impressionantes 100 quilos. Tudo graças à determinação.
Mesmo morando no Centro, escolheu correr no Moinhos de Vento por achar que ali é o lugar ideal para encontrar amigos e conterrâneos. Enquanto corre, larga um "opa" para o grupo de aposentados que joga conversa fora em um banco do parque e cumprimenta uma amiga que inspirada nele, decidiu correr para emagrecer.
- Não desiste, hein? Tu estás indo muito bem - incentiva, como se fosse treinador.
Estar sempre sem camisa - sua marca registrada - e não esconder as marcas do emagrecimento repentino é quase como um troféu para Guerra. Ele atribui à corrida a grande guinada na sua vida e pensa em, um dia, ser palestrante motivacional:
- A corrida virou meu remédio, minha terapia, minha atividade social. É de exemplo que as pessoas precisam. Não de discursos.