Do lado de fora, apenas mais uma porta qualquer, entre tantas outras de estabelecimentos comerciais da Avenida Osvaldo Aranha, no Bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Do lado de dentro, um oásis de filmes pornôs espalhado em três andares de uma videolocadora que resiste à era digital graças a um público fiel.
Nem atores e produtores do setor e donos de outras locadoras mundo afora questionam o título dado pelo proprietário Hilton Zilberknop, 50 anos, - e propagandeado por ele mesmo - de que a Zil Locadora é a maior do mundo no gênero pornô. Se é ou não é, parece difícil confirmar, mas o acervo de Hilton merece respeito: 27 mil DVDs e 20 mil VHS do gênero para todos os gostos.
Para facilitar a vida do cliente, os títulos são divididos em categorias como hétero, gays, travestis, zoofilia (sexo com animais) e sadomasoquismo. Mas as segmentações não param por aí: quem passear com calma pelo corredores perceberá que há tramas com idosos, novinhos, gordos, magros, com peito pequeno, siliconado, natural, em grupo, sozinho e com brinquedos eróticos. Até fantasias esquisitas, como fetiches com pés, mãos e grávidas, estão contempladas. Isso, sem contar com as paródias de clássicos do cinema tradicional.
Como as locadoras de vídeo tentam se reinventar para sobreviver
- Já fui a alegria dos vendedores. Comprei muito e passei anos estocando filmes. Aí, chega uma hora que tu tens muita coisa que os outros não têm - gaba-se Hilton.
A variedade, aliás, sempre foi um dos segredos do sucesso da Zil Vídeo, inaugurada pelo seu irmão Celso em 1987 - Hilton entrou para o negócio no ano seguinte.
Mais tarde, como único proprietário, passou a comprar todos os estilos de filmes em VHS, dando atenção especial ao pornô. A partir de 2005, com a chegada do DVD, passou a comprar apenas este segmento, mas ainda manteve o acervo convencional em VHS - ainda é possível encontrar VHS de filmes convencionais na locadora, embora a reportagem não os tenha localizado.
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Hilton viu no pornô oportunidade de expandir o negócio
Diferentemente da maioria das locadoras - onde os filmes adultos costumam ficar em uma área menor e reservada -, a Zil investiu pesado no pornô para todos os gostos porque viu aí uma oportunidade de crescer. Hilton conta que foi pioneiro, inclusive, na compra de filmes para o público gay.
A regra, aliás, sempre foi essa: comprar de tudo, independentemente do fetiche, da orientação sexual e da bizarrice do filme. Assim, deu espaço a diretores e produtoras desconhecidos e a filmes dos mais diversos países. Circulando pela locadora, é possível encontrar atores de múltiplas nacionalidades.
Ao longo dos anos, Hilton manteve o estabelecimento unicamente como locadora. Ao contrário de outras do gênero na Capital, que misturam filmes como sex shops, cabines eróticas e outras cositas más.
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Mesmo assim, ele não está ileso à crise que atinge as locadoras de vídeo. Com a venda de filmes piratas nas ruas e a internet, ele admite que é difícil manter a sustentabilidade do negócio. Desde janeiro, não tem mais funcionários e é o único a trabalhar no local.
- Faz tempo que o mercado está difícil, e agora é uma loteria. Tem dias que são bons e outros não - reconhece.
O perfil do cliente
A variedade é tanta e os gostos de cada cliente são tão surpreendentes que Hilton garante que não dá sugestão alguma de locação, a menos que seja consultado. Ele mesmo confessa que não conseguiu assistir a todo acervo que tem. Saudoso das produções dos anos 1970 e 1980, admite que os filmes atuais não tem mais o mesmo tom.
- Antes, tinha mais história, enredo, outro viés. Hoje, já começa com sexo explícito no letreiro - explica.
O perfil de cliente da Zil abrange todas classes sociais, idades e orientações sexuais. Porém, homens, acima dos 30, 40 anos, são a maioria. É raro ver jovens e mulheres solteiras na locadora.
- Tenho clientes também com 70, 80 anos. Uns que vêm de longe, colecionadores até do Interior do Estado.
À frente da locadora, já passou por situações embaraçosas:
- Tem mulher que vem aqui querer saber que filme que o marido aluga, mas não dou informação nenhuma, sem condições. Outra coisa que acontece com frequência é o camarada chegar, sem eu nem perguntar nada, dizer que o filme é para um amigo. Falam sem eu sequer perguntar... - diverte-se.
Nem Hilton assistiu todo o acervo que tem
Foto: Mateus Bruxel/Agência RBS
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Foto: Mateus Bruxel/Agência RBS
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