Com o trabalho em uma associação beneficente, Ingrid Hellen Santos buscava afastar crianças e adolescentes da violência que impõe medo na Vila Cruzeiro, zona sul de Porto Alegre - a mesma violência pela qual foi morta com um tiro na cabeça, aos 15 anos, na noite de quinta-feira.
Moradora da região desde que nasceu, Ingrid aguardava o ônibus em parada da Avenida Tronco, junto da prima de 13 anos com quem iria ao shopping, quando dois homens passaram em uma moto, atirando.
A garota ainda teria tentado correr, mas acabou sendo baleada no Beco dos Coqueiros, assim como outros dois jovens que foram encaminhados para atendimento médico. Uma adolescente e uma criança também foram atingidas de raspão.
O crime é apurado pela 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa.
- A motivação ainda não está clara, mas sabemos que o local é conhecido pelo tráfico. Recebemos algumas informações sobre suspeitos, mas não vamos divulgar para não atrapalhar as investigações - explica a delegada Elisa Souza.
O tiro que acertou Ingrid interrompeu seu sonho de fazer faculdade de Direito e se tornar advogada, conta a tia Patrícia Araújo:
- Ela era linda, tinha planos.
A adolescente trabalhava no Centro Esportivo, Cultural e Assistencial Vila do Campinho com crianças menores de 10 anos.
Tio de Ingrid, Ubirajara Junior ressalta que ela entrou na entidade como educanda, depois passou a auxiliar o projeto.
- Devido ao conhecimento, à disposição e à alegria, ela foi efetivada como oficineira. Ela cuidava de outras crianças na recreação e fazia artesanato - afirma o tio.
A menina cursava o primeiro ano do Ensino Médio no Colégio Estadual General Álvaro Alves da Silva Braga. Residia com a mãe e duas irmãs mais novas - por parte de pai, tinha três irmãos menores.
Despedida marcada por tristeza e protestos
O velório da estudante, no Cemitério São Miguel e Almas, na tarde de sexta, foi precedido de manifestação que reuniu familiares e amigos. A caminhada, com faixas e cartazes demonstrando indignação, partiu da Vila Cruzeiro.
O líder comunitário Marco Aurélio dos Santos Pereira, integrante da Associação dos Moradores da Vila Tronco (Amavtron), não poupou críticas à segurança pública.
- Teve um período em que a gente tinha os Territórios de Paz (programa do governo do Estado), uma polícia que fazia prevenção. Tinha a aproximação da polícia, que aparecia mais - salienta.
Durante a madrugada, outro protesto já havia sido feito por moradores da região, que montaram barricadas em ruas e incendiaram pedações de madeira e pneus. A Brigada Militar foi ao local e utilizou bombas de efeito moral - conforme a corporação, um caminhão dos bombeiros foi apedrejado.
A morte de Ingrid integra estatística alarmante. Reportagem especial publicada em 13 de julho por Diário Gaúcho e Zero Hora mostrou que, em média, uma criança ou adolescente é assassinado a cada três dias na Região Metropolitana.
Nos primeiros cinco meses do ano, foram 50 vítimas. No bairro Santa Tereza, além de Ingrid, outros dois adolescentes foram mortos desde domingo.
*Diário Gaúcho