O aguaceiro do início da semana elevou o nível do Guaíba, em Porto Alegre, para 2,56 metros - valor anotado no começo da madrugada desta quinta-feira, na régua do Cais Mauá (onde são feitas historicamente as leituras). Essa foi a maior medição desde 1984, quando as réguas marcaram apenas quatro centímetros a mais. O volume escondeu parte do gramado nas proximidades do Gasômetro, formou ondas em Ipanema, alagou ruas como a Voluntários da Pátria e atingiu a região das ilhas.
Ao contrário de 1965, porém, quando o Guaíba mediu os mesmos 2,56 metros e causou uma enchente com desabrigados, a cidade não ficou debaixo d'água nesta semana. Mas por que Porto Alegre não inundou com tanta chuva? A explicação está, para especialistas, nos 68 quilômetros de dique em terra que se estendem de uma ponta à outra da cidade: das imediações do BarraShoppingSul à Fiergs.
Capa de ZH de 1965 sobre a enchente na Capital
Foto: Reprodução
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Bolter também cita outros investimentos no setor que ajudaram a conter uma possível cheia: 40 obras de drenagem executadas nos últimos 10 anos, a operação de 27 bacias de amortecimento públicas e a drenagem dos principais arroios. O próximo riacho a receber a operação deve ser o localizado ao lado à Arena do Grêmio, no bairro Humaitá. Segundo o diretor-geral do DEP, a construção da ponte da BR-448 estrangulou o canal, o que provocou pontos de alagamento nesta semana.
Segundo o professor do IPH, o fato de cidades vizinhas, como Alvorada e Gravataí, terem inundado não tem qualquer relação com o sistema de prevenção de cheias de Porto Alegre:
- Dependendo do sistema e do local, quando se tira a inundação de um lado, pode se aumento do outro. Mas, na Região Metropolitana, o acréscimo desse volume é muito pequeno. O que ocorre é que as outras cidades não tem a proteção que a Capital tem - diz Tucci.
* Zero Hora
- Depois que o dique foi construído, pelo menos essas cheias pequenas, ele deve proteger. Na década de 1960, não havia o dique. Os pontos mais baixos que, naquela época, inundaram, hoje estão mais protegidos - aponta o professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, Carlos Tucci.
O sistema de proteção contra cheias, construído na década de 1970, foi elaborado pelo já extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) após a enchente de 1941 (quando o nível de 4,05 metros no Guaíba alagou a cidade e deixou 70 mil flagelados).
- Esse sistema, que possui 14 comportas de fechamento do dique, faz com que as águas do Guaíba não entrem na cidade. Já as casas de bombas fazem com que a água de dentro da cidade, vinda das chuvas, seja levada para o Guaíba - explica o diretor-geral do Departamento de Esgotos Pluviais da Capital, Tarso Boelter.
Nos 2,6 metros de extensão do Muro do Mauá, são sete comportas que só precisam ser fechadas se o nível do Guaíba ultrapassa 3 metros. Quatro delas foram fechadas pelo DEP nesta semana por precaução e, nos próximos dias, outros nove portões de ferro que protegem a cidade da invasão da água deverão ser cerrados, também, para testes.