* Paulo Fagundes Visentini é historiador, professor titular de Relações Internacionais da UFRGS. Escreve mensalmente no Caderno PrOA.
O Império britânico colonizou regiões em volta de todo o planeta e originou duas grandes nações desérticas, o Canadá e a Austrália. O Canadá é a segunda nação mais extensa do mundo, uma vastidão fria de 9,9 milhões de quilômetros quadrados, mas com apenas 35 milhões de habitantes, 90% concentrados na fronteira com os Estados Unidos. O vale do Rio São Lourenço e os Grandes Lagos são o coração do país e sua zona povoada. O centro é coberto de lagos e pinheiros, evoluindo para a tundra ao norte e o gelado arquipélago do Oceano Ártico. No oeste há as férteis pradarias e as impactantes montanhas Rochosas.
A origem do país remonta à longa luta entre ingleses e franceses, que foram os primeiros colonizadores europeus no Canadá. Em 1763, Quebec foi tomada pelos britânicos, mas eles perderam as 13 colônias americanas vinte anos depois. Interessante, um terço dos colonos americanos lutou ao lado da Inglaterra e, depois da independência, emigrou para o quase despovoado Canadá. Durante a luta pela independência, a jovem república americana tentou anexá-lo, e outra vez em 1812, mas fracassou.
Assim, a independência dos EUA também deu origem ao Canadá inglês, cuja fronteira foi fixada com a linha reta do paralelo 49. Mas os canadenses sempre temeram os poderosos vizinhos e atraíram colonos britânicos ao se expandir para o Pacífico. Os russos, rivais dos ingleses, venderam o Alasca aos americanos em 1867, para não perdê-lo, em mais um lance da rivalidade entre irmãos. Os ciclos do ouro e do trigo atraíram ainda mais povoadores, e a ferrovia transcontinental Canadian Pacific foi completada em 1888. Em 1907, o país se tornou um Domínio autônomo na Commonwealth, e sua prosperidade econômica e Estado de bem-estar social atraiu outros colonos europeus.
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Mas com o tempo, surgiram rivalidades internas: o nacionalismo separatista do Quebec (mesmo com a adoção do bilinguismo) e a reivindicação autonomista de indígenas e esquimós (que já têm sua reserva no norte, Nunavut). A indústria sempre sofreu a concorrência norte-americana, mas o país também exporta minérios, gás, petróleo, trigo e madeira. Todavia, o Canadá padeceu economicamente com o neoliberalismo ao aderir ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte e, politicamente, com o enfraquecimento do governo federal em detrimento das províncias, o que aumenta o risco de separatismo.
A imigração atual é dominada por asiáticos, latinos e caribenhos, incentivada para compensar a emigração (frio glacial e falta de empregos), especialmente de trabalhadores qualificados. O perfil demográfico está mudando rapidamente e a região Atlântica estagnou, enquanto a Colúmbia Britânica, no Pacífico, é mais dinâmica. O país é um grande destino turístico, com a mescla de cultura inglesa (também francesa e nativa) e de paisagem rústica americana. Mas, cuidado, nada ofende mais a um canadense do que ser confundido com americano!
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