A longa crise do Hospital Parque Belém, na zona sul de Porto Alegre, atingiu um novo patamar no início deste semestre. Com reclamações de funcionários sobre atrasos de dois meses no pagamento integral dos salários, a instituição estaria chegando a um limite.
- No nosso ponto de vista, não tem mais salvação - alertou o presidente do Sindicato dos Profissionais de Enfermagem, Técnicos, Duchistas, Massagistas e Empregados em Casas de Saúde do Rio Grande do Sul (Sindisaúde-RS), Arlindo Nelson Ritter.
A opinião é compartilhada pelo secretário municipal de Saúde, Fernando Ritter. Ele participou nesta sexta-feira de uma reunião com gestores do hospital e representantes do Ministério Público Estadual.
- Se eles continuarem com esse processo de administração deles, corre o risco (de fechar), mesmo - apontou.
O presidente do Sindisaúde afirmou que valores com destinação certa foram desviados para outros fins. Além disso, criticou o rendimento dos gestores da instituição, que poderia variar entre R$ 40 mil e R$ 60 mil.
O secretário questiona a capacidade do hospital de se manter, mas a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) investiga se a prefeitura deixou de fazer um repasse de R$ 232 mil em junho, referente a custos de julho para leitos de UTI. O valor foi citado pela diretoria do Parque Belém durante a reunião, ressaltou. Uma solução proposta pela SMS é a transformação do hospital em um Centro de Atendimento Psicossocial (Caps).
Funcionários do hospital estão revoltados com o atraso nos pagamentos. O efeito é que muitos estão deixando de ir ao trabalho e até utilizando atestados médicos para não comparecer. Uma enfermeira relatou que foi a única a trabalhar em um dos turnos, e considerou ter sido muito complicado:
- Faço o que posso fazer. Tive que ir nas unidades que não conheço e olhar por cima para ver se tinha algo grave.
Uma enfermeira afirmou que, na falta de profissionais, estagiários têm sido colocados no serviço. Além do atraso no pagamento, há falta de remédios e itens básicos, como antibióticos, ressaltou. Também disse que há somente um médico em atividade. Para piorar, haveria leitos ociosos. A prefeitura não tem encaminhado pacientes ao hospital.
No primeiro semestre, o Sindicato dos Enfermeiros do Rio Grande do Sul (Sergs) já havia entrado com uma ação contra os atrasos nos pagamentos, segundo a secretária-geral da entidade, Denize da Cruz. Na semana que vem, a categoria poderá decidir entrar em greve em assembleia da entidade.
O Sindisaúde também prepara uma paralisação, para a próxima quinta-feira. O sindicato está buscando uma rescisão coletiva de contrato por causa dos atrasos nos pagamentos. Zero Hora tentou contato com dois integrantes da direção do Parque Belém ao longo de toda a sexta-feira, por celular e por telefones do próprio hospital, sem sucesso.
O hospital
- Localizado no bairro Belém Velho, conta com 199 leitos
- 80% do atendimento é pelo SUS
Serviços prestados por mês:
- 452 internações pelo SUS
- 100 internações por convênio ou particular
- 200 cirurgias
- 17 mil exames laboratoriais