Um mosaico de rachaduras e de pisos afundados compõe o cenário em casas localizadas na Rua Dona Sofia, no bairro Santa Teresa, zona sul de Porto Alegre. Há um ano e dois meses, a vizinhança contatou a prefeitura pela primeira vez para identificar a origem dos problemas, depois de desistirem de arrumar as falhas por conta própria porque elas sempre voltavam. Até hoje, não houve uma resposta satisfatória.
A demora para obter uma resposta levou as irmãs Maria de Nazareth e Eloisa Agra Hassen a pensar em processar a prefeitura. Elas alertam para o risco de desabamento de algum muro, parede ou telhado e também questionam o poder público por nunca terem visto qualquer vistoria à galeria subterrânea que passa pela região. A canalização de um curso d'água embaixo das casas seria responsável pelos problemas.
Em troca de e-mails em abril do ano passado, o atendimento do Fala Porto Alegre (telefone 156) informou que "em caso de prejuízos causados pela demora do atendimento, poderá solicitar indenização via Protocolo Administrativo (Rua Sete de Setembro, 1.123 - 9h às 16h)". Nazareth rebateu em outra mensagem: "Essa resposta parece um deboche. Primeiro porque, se o 'prejuízo' for a integridade física das pessoas, certamente que o caminho não será esse".
As irmãs estão preocupadas com a mãe, que mora na casa mais afetada. Aos 87 anos, a idosa sofre de Alzheimer e é atendida 24 horas por três cuidadoras. Mas os defeitos se espalham por pelo menos outros dois imóveis na rua: um estabelecimento comercial ao lado da casa da idosa e uma padaria na quadra vizinha. Eloisa mora atrás da residência da mãe e também tem percebido fissuras em sua casa.
- Há 15 anos moro aqui e nunca fizeram uma inspeção na galeria. Mandamos arrumar, fazemos drenagem e o chão volta a afundar - afirma Eloisa.
No Centro, utensílios de carrocinha de cachorro-quente são lavados na sarjeta Leia todas as notícias do dia
Leia todas as notícias de Porto Alegre
Filha de moradora estranha atitudes de técnicos que foram ao local
Nazareth considera sem nexo as atitudes de técnicos enviados ao local depois do encaminhamento dos pedidos de providência. Em uma ocasião, eles chegaram à rua, mas não inspecionaram a galeria:
- Foram e olharam para uma árvore, uma paineira imensa. A gente não vê relação da árvore com o problema.
Outra situação inusitada ocorreu um ano depois do primeiro contato com a prefeitura. Um engenheiro foi ao endereço, não entrou na galeria e fez o seguinte comentário:
- Eu precisaria de uma picareta...
- Não temos - respondeu Nazareth.
A observação seguinte do engenheiro chamou a atenção dos moradores:
- Ninguém trabalha nessa casa?
O Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) foi contatado por ZH para explicar a demora no atendimento, e enviou uma resposta às 11h27min desta sexta-feira:
Conforme vistoria criteriosa no local, constatamos que:
A rede pluvial pública, que passa ao lado da casa (no terreno da vizinha) e a que passa no seu passeio (em frente a casa 109) estão limpas e em condições normais de funcionamento (não existe nenhum afundamento ou buraco sob as redes). Quanto às rachaduras das duas casas, o DEP afirma que não existe relação com as redes pluviais, pois as mesmas não passam por debaixo das casas.
Apesar do esclarecimento, a vizinhança ainda quer saber exatamente o que afeta a região. No final da manhã desta sexta-feira, ZH contatou a Secretaria de Governança, responsável pelo Fala porto Alegre, que prometeu conferir o que está havendo.
Às 14h55min, a Secretaria de Governança informou que recebeu as explicações do DEP. Agora, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) ficará com o processo porque a suspeita que ganha força depois de a galeria ter sido descartada é a da árvore, cujas raízes poderiam estar atingindo as casas.
A Smam terá 30 dias para avaliar a situação e dar uma resposta. O processo, porém, deverá chegar à secretaria somente na semana que vem.