* Historiador, professor titular de Relações Internacionais da UFRGS. Escreve mensalmente no caderno PrOA
Há 40 anos, os tanques do Vietnã do Norte e os guerrilheiros do sul irrompiam no palácio do General Van Thieu, em Saigon (atual Ho Chi Minh), derrubando portões gradeados. Os últimos americanos e a elite do regime vencido embarcavam em helicópteros no telhado da Embaixada dos EUA, desesperados, rumo aos porta-aviões. O dirigente já fugira com dois aviões carregados: um com seus parentes e amigos íntimos, outro com as reservas de ouro do Banco Central. Era o fim da guerra e a reunificação da nação.
A aventura vietnamita começou com a resistência da frente Viet Minh aos colonizadores franceses e, em 1940, também contra os japoneses. Com o colapso do Japão, o Viet Minh conquistou o poder em 1945. Todavia, os franceses não reconheceram a independência e cometeram o erro de tentar reocupar o país, o que lhes custou uma vergonhosa derrota em Dien Bien Phu e sua saída em 1954. Houve a divisão temporária (dois anos) no paralelo 17 até as eleições gerais. Mas o governo do sul se recusou a promover eleições, e a guerrilha reiniciou e logo controlava 75% do território. Assim, em 1965 os americanos promoveram a escalada, e suas forças saltaram de 25 mil soldados para 600 mil em 1968. Seu objetivo era uma guerra clássica, geograficamente limitada.
Contra o enorme poder de fogo, a resposta vietnamita foi atacar a retaguarda do inimigo, sem uma frente de combate. Técnicas de guerra psicológica foram usadas contra os invasores, que empregaram napalm e agente laranja. Mas em 1968 o Viet Cong lançou um ataque contra todos os objetivos inimigos (Ofensiva do Tet). A guerra estava perdida, os americanos se retiraram, e o regime desmoronou rapidamente. Mas não houve paz, porque a China invadiu o Vietnã em 1979, sofrendo uma grande derrota, numa insólita guerra inter-socialista. Face aos problemas econômicos, foi lançada a reforma socialista de mercado, Doi Moi, segundo o modelo chinês. O resultado foi positivo, e o Vietnã cresce como a China, mas busca manter sua autonomia em relação a ela.
A soberania foi conseguida, o pais mantém o regime socialista e possui forte identidade nacional. No museu da guerra, em Saigon, duas coisas impressionam: as fotos e objetos (que falam por si) e os visitantes estrangeiros (que calam por si). Turistas americanos são recebidos com cordialidade e entram sorridentes e excitados. Ao longo das salas eles observam a guerra que travaram mas desconhecem, e vão baixando a voz. Na saída estão silenciosos, sérios e cabisbaixos.
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