Duas das três unidades de saúde da família do Extremo-Sul de Porto Alegre coordenadas pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento (AHMV), desde 2010, e que estão sendo transferidas ao Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), enfrentam há duas semanas o que a comunidade previa: a falta de médicos da família.
Em dezembro do ano passado, reportagem do Diário Gaúcho mostrou a tensão dos moradores das comunidades atendidas na Unidade de Saúde da Família (USF) Paulo Viaro, na Estrada do Lami, na USF Núcleo Esperança, no Bairro Restinga, e na USF Chapéu do Sol, no bairro de mesmo nome. O maior temor das lideranças comunitárias era de que a transferência causasse a falta de profissionais para o atendimento dos cerca de 24 mil pacientes cadastrados das unidades.
Na época, o então secretário Municipal de Saúde, Carlos Casartelli, justificou a troca por recomendação do Tribunal de Contas, pois todas as unidades de saúde da cidade deveriam ter como gestor o Imesf. Os três postos faziam parte do Projeto Social Restinga e Extremo-Sul, criado pela AHMV e que também inclui a construção e a administração do Hospital da Restinga e a criação de cursos para moradores locais voltados à área da saúde. Os prédios foram construídos pela administração municipal e receberam equipes contratadas pela AHMV.
Concursados estão sendo chamados
Na Paulo Viaro, um dos médicos já deixou a equipe e o outro está saindo nesta semana. O Núcleo Esperança, onde 6 mil pessoas são atendidas, está sem os dois médicos da família há 15 dias. Ontem, a moradora Cleoni Martins Campello, 64 anos, que também é representante local no Conselho Municipal de Saúde, esteve na unidade e confirmou a falta dos profissionais.
- Lutamos por dez anos para termos atendimento médico. Nos últimos três anos, estávamos no paraíso, pois jamais faltou atendimento. Mas bastou a prefeitura assumir para acontecer isso - reclamou Cleoni.
Paciente na unidade, a dona de casa Patrícia Regina Pereira, 43 anos, também teve o atendimento negado. Para não fechar o posto, duas enfermeiras estão fazendo a triagem dos pacientes no período da manhã.
- As equipes que atendiam aqui eram ótimas. Tínhamos festa para as crianças, atendimento para os hipertensos e os idosos e caminhada semanal. Tudo isso acabou - revelou Patrícia.
Ao todo, os 80 funcionários contratados pela Associação - entre agentes comunitários de saúde, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentistas, auxiliares e técnicos de saúde bucal - que atuavam nas unidades estão sendo trocados por profissionais concursados na prefeitura.
Diferentes versões de um problema
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Municipal de Saúde informou que existe um acordo entre o Imesf e a AHMV que determina ao Moinhos a responsabilidade pela equipe médica até maio de 2015, quando assumirão os novos médicos. Um concurso público para médicos da família foi realizado em janeiro deste ano e, neste momento, estão sendo realizados os trâmites burocráticos para as contratações. A Secretaria informou que solicitou uma reunião com a AHMV para hoje ou amanhã, a prefeitura irá propor à Associação a contratação emergencial de profissionais pelos próximos três meses.
Já a AHMV, por meio da assessoria de imprensa, disse não ter sido informada sobre a reunião e confirmou que estão faltando médicos por conta da saída de profissionais que farão residência em hospitais - o período de residências médicas no Brasil iniciou nesta semana. A troca do secretário da Saúde também teria influenciado na demora para a negociação com novos profissionais, pois a gestão, por enquanto, é compartilhada. A intenção da Associação é contratar temporariamente, até a próxima semana, os médicos de família que estão faltando nos postos. A assessoria não confirmou quantos estão faltando nas unidades.
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Patrícia (E) e Cleoni não conseguiram consultar no Núcleo Esperança
Foto: Luiz Vaz