A Capital perdeu o último dos 13 livreiros que, em 1955, se reuniram para vender obras com 20% de desconto na Praça da Alfândega, em iniciativa que daria início à Feira do Livro de Porto Alegre. Aos 92 anos, o português Edgardo Xavier enfrentava problemas respiratórios e morreu nesta segunda-feira em sua casa, no bairro Moinhos de Vento, vítima de parada cardíaca.
Xavier nasceu em Lisboa e migrou para o Rio de Janeiro aos 24 anos, para trabalhar na embaixada francesa - cultura pela qual tinha grande afinidade. Mudou-se para Porto Alegre para gerenciar a livraria Leonardo da Vinci e comprou o estabelecimento, pelo qual expôs na primeira Feira do Livro da Capital.
Em depoimento à ZH, em 2012, riu ao lembrar do primeiro dia do evento:
- Parecíamos as feras de um jardim zoológicos. As pessoas nos olhavam com curiosidade, e nós ali, atrás das barracas.
Administraria o ponto localizado na Avenida Salgado Filho até 1973. Depois de retornar de períodos no Rio de Janeiro e em São Paulo, criaria ainda a livraria Novo Rumo, na Galeria Edith (entre as ruas Andrade Neves e Andradas) e trabalharia na livraria do seu genro, o escritor Airton Ortiz.
Ortiz lembra que o papel de livreiro do sogro era muito mais ideológica do que comercial.
- Ele se preocupava com a formação de novos leitores. Queria que todas as classes tivessem acesso aos livros - afirma Ortiz.
Xavier costumava frequentar as feiras do livro e foi patrono em 1994 - na edição de número 40, foi homenageado junto a três livreiros pioneiros do evento, Nelson Boeck, Mario de Almeida Lima e Sétimo Luizelli. Não conseguiu prestigiar a última edição, em função de problemas de saúde, mas continuava buscando incentivar a leitura entre amigos: tinha o hábito de comprar obras direto de editoras para revender aos amigos.
- O livro me deu tantos amigos que tudo o que eu tenho hoje, é proveniente do contato com os livros - afirmou Xavier ao documentário de ZH.
Xavier deixa duas filhas, Mariana e Ana Paula, sua mulher, Jurema, e seis netos.
Em vídeo, veja a última declaração de Edgardo Xavier a respeito da Feira e dos amigos que fez nela: