
Para quem precisa circular pelas imediações da Rua Clemenciano Barnasque, no Bairro Teresópolis, em Porto Alegre, sair e chegar do trabalho ou ir ao mercado e voltar pra casa a salvo virou um desafio. Para algumas pessoas, prova de atletismo. Por conta do alto número de assaltos que assola a região, só correndo para fugir dos ataques de bandidos.
- Não dá para dar bobeira, tem que apertar o passo e ficar ligado. Se desconfiar de algo, o jeito é correr mesmo - disse um rapaz, flagrado pela reportagem descendo a rua apressado, no final da manhã desta quinta-feira.
Uma funcionária do Hospital Espírita de Porto Alegre, situado no alto da Clemenciano, também apela para a corridinha na hora de ir embora.
- Se eu me atraso para sair e o pessoal já desceu, saio em disparada. Outro dia, um colega me viu correndo e perguntou se eu ia perder o ônibus. Respondi que eu não queria perder a bolsa - contou a assistente administrativa.
Em rua do Bairro Teresópolis, 15 de 20 estabelecimentos foram assaltados
Ela relata que, devido à rotina de assaltos, seus colegas costumam sair em grupos de, no mínimo, três pessoas, para tentar inibir a ação dos criminosos.
- Quando alguém fica para trás, desce de lotação. Paga passagem para andar duas ou três quadras até a avenida principal - conta a funcionária.
Nem sempre a estratégia funciona. Uma senhora que trabalha na área de limpeza do hospital foi atacada ao meio-dia, quando chegava ao trabalho. Outra funcionária, depois de ser assaltada mais de uma vez, pediu demissão. Uma atendente escapou por segundos. Ao visualizar os assaltantes, atravessou a rua, mas os criminosos não perderam a viagem: atacaram um cobrador de ônibus que estava logo à frente dela.
Conforme moradores e trabalhadores das redondezas, os assaltantes geralmente andam armados e em bando.
- São três, que descem sempre de um carro prata e abordam as pessoas. A qualquer hora do dia, da manhã, quando o pessoal tá chegando. Até a noite, na saída do expediente - conta uma das vítimas.
"Não tem dia que alguém não seja assaltado"
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Há 30 anos trabalhando como vigia na Rua Fernando Osório, continuação da Clemenciano, um senhor de 59 anos já viu e sentiu na pele a ação dos bandidos.
- Uma vez, bandidos tentavam assaltar uma casa e me viram fazendo a ronda. Dispararam seis tiros contra mim. Me joguei atrás de um muro, mas, mesmo assim, fui atingido no estômago. Passei por cirurgia e fiquei dois meses internado. Voltei ao trabalho porque preciso, tenho família para sustentar. Mas procuro ficar sempre alerta. Qualquer movimento diferente já aciono a Brigada - relata.
O vigia garante:
- Não passa uma semana sem um assalto aqui. E não seria nenhum exagero dizer que não tem dia que alguém não seja assaltado. A coisa é complicada aqui no bairro - lamenta.
Um funcionário dos Correios que fazia entregas na região e viu a equipe do Diário Gaúcho, também fez questão de dar o seu depoimento:
- Faço entregas há 11 anos aqui. Assalto faz parte da rotina dos moradores, especialmente dos idosos. Quando vê um carro com vários homens dentro, o pessoal já corre. O bairro está entregue ao descaso - denúncia o carteiro.
Assaltantes não param na cadeia
Para o titular da 20ª DP, Luis Fernando Martins Oliveira, que atende a área, um dos fatores que potencializam a criminalidade na Rua Clemenciano Barnasque e suas adjacências é estar compreendida entre as vilas Erechim e Jardim Marabá - também conhecida como No Limite.
- É uma área que eles conhecem bem e que tem muitos acessos às vilas por becos e ruelas onde as viaturas não passam. São assaltos praticados, geralmente, por menores de idade que utilizam armas de brinquedos. São apreendidos pela Brigada Militar, encaminhados para o Deca, mas liberados em seguida - explica o delegado.
A Brigada Militar reconhece a rotina de roubos a pedestres na região e afirma que tem investido em patrulhamento neste locais. No entanto, também credita a sensação de impunidade à dificuldade de reprimir os roubos.
- A demanda é muito grande, mas estamos trabalhando com o Pelotão de Operação Especiais e temos direcionado viaturas para tentar coibir e diminuir estes ataques. Já efetuamos diversas prisões na região, mas o problema é que eles não ficam na cadeia e voltam para a rua para praticar novos assaltos - afirmou o major Rodrigo Mohr, que responde pelo comando do 1º BPM.