Uma pirâmide de 21 metros de altura desponta em meio à vegetação na zona sul de Porto Alegre. Não é de pedra nem tem mais de 4,5 mil anos, e sim metálica e com menos de 30 dias de existência. Equiparável a um prédio de sete andares, é mantida por uma mulher que costuma jogar os cabelos loiros com mechas brancas e vermelhas para os lados com meneios rápidos da cabeça. Ela olha para você e, decidida, já diz alguma coisa poucos segundos depois:
- Você está estressado.
- Ahm, é, s-sim!
- Você precisa escrever um livro.
- Ééé...
- Cuidado com um acidente na viagem para Santa Catarina.
- Oh.
A capacidade de adivinhar tudo assim é um reflexo do aprendizado de Maria Correa dos Santos, mais conhecida como Mestra Tala, ao longo de seus 62 anos de vida. Ela capta bem o jeito e o comportamento dos seres humanos. Ou, muitos dizem, trata-se de uma vidente. Não à toa, Mestra Tala recebe governantes e artistas em busca de orientações. Ela não revela quem são, mas até governadores estão na lista.
Mestra Tala vive e atende sua clientela em um canto tranquilo e bucólico no bairro Lami, distante 30 quilômetros do centro de Porto Alegre. Trata-se de um terreno ecumênico, sincrético - por isso Mestra Tala se denomina uma "líder religiosa universalista".
Bem, a pirâmide. Chama-se Pirâmide das Curas Mãe Gedi e fica em cima de um monte de cristais, que servem para ampliar a energia na estrutura. Tala conta que teve uma visão da pirâmide em 1972, época em que o ponto exato onde a construção está hoje era um banhado. Há quatro faces perfeitas na pirâmide, dedicadas à água, ao fogo, à terra e ao ar. No topo, um cristalzão pende, amarrado, e também serve para ampliar a energia.
Mas por que tanta energia? É para curar. Mestra Tala pega você e o senta em um sofá em forma de flor de lótus e você fica ali, ouvindo a natureza e a voz de Mestra Tala ricocheteando que nem pluma em algodão pelas paredes da pirâmide e então, já viu, você pode dormir, mesmo. Se há algo que emana de todos os lados, mais do que energia, é a paz - que em um dia quente e ventoso pode ser ainda mais sonolenta. E é assim que se começa uma cura.
No espaço são tratadas doenças psicossomáticas, males provocados pelo consumo de álcool e drogas e enfermidades gerais do corpo. Mestra Tala reforça que tem "verdadeiro fascínio pela cura". Está sempre preocupada com os joelhos das pessoas - em nossa visita, no último dia 5, apontou para que eu, o fotógrafo Diego Vara e o motorista José Carlos Militão cuidássemos dessa parte do corpo. Mas deixa claro: "Não estamos aqui para fazer o trabalho dos médicos, mas para ajudar as pessoas a encontrar o seu equilíbrio interior e poder absorver na integralidade o que o tratamento clínico pode lhes dar", pondera, em um texto sobre a inauguração da pirâmide, ocorrida em 23 de novembro.
Aí, uma grande aranha preta atravessou o chão da pirâmide. Mestra Tala a acompanhou com os olhos. Sorriu:
- Estamos no meio do campo, né?
Então fomos para o campo. No entorno da pirâmide há outros 20 templos. Tem um dedicado à maçonaria, outro a religiões indianas, rituais aborígenes, cristianismo... Todos guardam uma infinidade de imagens, estátuas e artigos trazidos de diversos pontos do mundo pela mestra. O conjunto todo se chama Templo Universal da Paz Pai Francisco de Luanda, e foi fundado em 1950 pelo pai dela, Luis Carlos Correa da Silva. A base é a umbanda branca. Um plano para o futuro é construir uma mesquita islâmica.
- É a única religião que ainda não tem - explica.
O dinheiro que financia tudo isso vem dos búzios e das cartas jogadas por outros mestres e médiuns que trabalham no local. Os tratamentos de saúde são gratuitos, reforça Tala.
Naquela sexta-feira, fazia um calor egípcio. Ao circular pelo terreno, Mestra Tala entrou em um templo colorido enfeitado por objetos indígenas. Era o Templo Xamânico, um dos mais interessantes do conjunto todo. O chão é de terra e, no meio, em um buraco redondo cercado por uma mureta, descansam galhos secos de plantas aromáticas. Tala riscou um fósforo. O fogo que tomou conta do templo deixou tudo tão quente, mas tão quente, que do lado de fora parecia que a primavera havia se transformado em outono.
Foto: Diego Vara