Foto: Júlio Cordeiro / Agência RBS
Agora é oficial: o principal acesso a Porto Alegre deixa de homenagear Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura militar, e passa a se chamar Avenida da Legalidade e da Democracia. Isso porque a Câmara de Vereadores promulgou, no final da manhã desta quarta-feira, a lei que altera a denominação da via, aprovada pelo Legislativo no final de agosto.
A medida que faz a regra começar a valer foi assinada pelo presidente em exercício da Casa, vereador Mauro Pinheiro (PT), já que o prefeito José Fortunati (PDT) não sancionou nem vetou o projeto de Fernanda Melchionna e Pedro Ruas, ambos do PSOL. O chefe do Executivo alegou, após 15 dias do recebimento do texto, que há dúvidas sobre a tramitação do processo na Câmara e que não houve consulta à comunidade.
- A ditadura foi uma tragédia na história do Brasil. Teve prisões arbitrárias, tortura, mortes. Não tem nenhum sentido em homenageá-la. E essa era a maior homenagem à ditadura na cidade - afirma Ruas, citando que Alemanha, Espanha e Chile não usam locais públicos para homenagear Hitler, Franco e Pinochet. - Estou fazendo justiça histórica, tenho muito orgulho deste momento - comemora.
No debate entre Castelo Branco e Legalidade, como tratar a história
Rosane de Oliveira: "Troca de nome não apaga a história"
- Há um significado importante de retomada da história. É um grande orgulho homenagear a luta por democracia - salienta Pinheiro.
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) ainda não sabe quando as placas serão trocadas e qual será o custo do processo, mas informa que deve ter um posicionamento na próxima semana.
MURAL: Na sua opinião, há outras ruas da Capital que devem ser rebatizadas? Quais?
Opositor ameaça entrar na Justiça contra mudança
Rejeitado em 2011, quando teve 12 votos favoráveis, 16 contrários, cinco abstenções e três ausências, o projeto de lei voltou para a Câmara em 2012, mas não chegou a ir à votação. No dia 27 de agosto deste ano, os parlamentares aprovaram o texto por 21 votos a cinco.
O vereador João Carlos Nedel (PP) cogita ingressar na Justiça contra a mudança. Ele chama o projeto de "ideológico" e diz que a tramitação foi equivocada - segundo ele, o projeto deveria constar como "denominação" e não "alteração de denominação" porque o nome Avenida Presidente Castelo Branco não foi colocado na via por meio de um projeto de lei.
O vereador Pedro Ruas contesta a posição de Nedel afirmando que a procuradoria da Câmara foi consultada, assim como outros juristas. Ele defende que a medida correta é alteração de denominação pois o nome Castelo Branco estava institucionalizado.
- Isso (a lei) também acarreta despesas para o município, tem de alterar o mapa da cidade e as placas. Não podemos fazer projetos que implicam despesas - diz Nedel.
A Comissão Estadual da Verdade (CEV-RS) afirma que a "renomeação de logradouros, retirando a homenagem (auto) prestada a autoridades do regime autoritário, ao lado da identificação de sítios de memória - locais que marcam a existência de pessoas ou fatos históricos do passado recente de resistência e de repressão -, constitui importante passo no processo de ressignificação dos espaços públicos, associando-os à luta pela efetivação da democracia e da cidadania".
O novo nome da via faz referência à Legalidade, movimento liderado pelo ex-governador Leonel Brizola, um dos maiores nomes da história do PDT. A lei deve ser publicada no Diário Oficial do Município na quinta-feira, quando passa a vigorar.
ENTENDA OS NOMES
Quem foi Castelo Branco
Nascido em Fortaleza, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco foi um dos principais articuladores do golpe que destituiu Jango. Tornou-se o primeiro presidente do período militar, em 1964. Ficou no cargo até março de 1967. Morreu quatro meses depois.
O que foi a Legalidade
O movimento da Legalidade, liderado pelo governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, defendeu, em agosto de 1961, a posse do vice-presidente João Goulart (Jango), que estava em missão oficial na China, depois da renúncia do presidente Jânio Quadros.
* Zero Hora