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A recomendação ao Poder Executivo para que a Avenida Ipiranga seja dotada de faixa exclusiva de ônibus foi analisada por três especialistas que conhecem bem o trânsito de Porto Alegre. Entre eles, a unanimidade é de que algo deve ser feito para melhorar o trânsito da Capital.
Fernando Lindner, arquiteto e consultor em mobilidade e diretor de trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) entre 1997 e 2001, defende a prioridade ao transporte público. Ele cita números que o autor da recomendação, o vereador Marcelo Sgarbossa (PT), também utiliza para embasar a medida: os ônibus carregam 70% da população, e os carros, 30%, mas os últimos ocupam, juntos, espaço muito maior no trânsito.
- Não só é possível como é necessário (criar via exclusiva para ônibus na Ipiranga). A mobilidade sustentável se impõe. Tem que se priorizar o transporte coletivo na Capital. São Paulo está mostrando que esse é o caminho. O problema é político, é fazer o gestor municipal comprar essa briga - analisa.
Faixa exclusiva na Zona Sul é citada por vereador como bom exemplo
Foto: Dani Barcellos, especial
Visão parecida tem o engenheiro de transportes, professor da UFRGS e presidente da Embarq Brasil, Luis Antonio Lindau. Ele argumenta com a comparação da capacidade dos veículos de transportar passageiros, 10 vezes maior no ônibus do que no automóvel.
- Todos os lugares onde tem congestionamento devem ter vias exclusivas de ônibus, sou favorável a ampliá-las muito. É importante expandir não só para a Avenida Ipiranga, mas para a Nilo Peçanha, a 24 de Outubro. É inevitável os carros ficarem cada vez mais parados no trânsito e andarem somente ônibus e bicicletas. É preciso assegurar o espaço público - disse.
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Engenheiro mecânico e consultor nas áreas de trânsito, acidentes e tráfego, o engenheiro mecânico Walter Kauffmann Neto tem uma opinião que destoa dos especialistas acima. Para ele, a Ipiranga não tem estrutura para receber uma faixa de ônibus porque o volume de carros é muito grande.
- Desconheço se existe volume de ônibus suficiente na Ipiranga para uma faixa exclusiva. Trânsito não é mágica, tem que ser feito um estudo complexo. É preciso estudar uma possibilidade de transporte de massa, um monotrilho em cima do Arroio Dilúvio, quem sabe. Ou achar uma forma de aumentar o tamanho da Ipiranga, o que é possível só por cima do arroio - argumenta.
A proposta é diferente de um projeto de lei: funciona como uma recomendação ao Executivo. Na segunda-feira, a proposta entrou na pauta de discussão da casa, e só deve ser encaminhada à prefeitura caso seja aprovada pelos vereadores em uma votação. Conforme o vereador, essa votação deve ocorrer em outubro. Mesmo se aprovada na Câmara, a medida pode não ser acatada pela prefeitura, por ter teor de recomendação.
Sgarbossa cita o bom resultado da faixa para ônibus na Zona Sul, nas avenidas Cavalhada, Teresópolis e Nonoai, onde o tempo das viagens dos coletivos diminuiu 27%, lembrou. Kauffmann contrapõe, citando que a faixa para ônibus da Avenida Brasil, na Zona Norte, ao contrário, aumentou o congestionamento na região.
Faixa para ônibus na Avenida Brasil é criticada por especialista
Foto: Tadeu Vilani
O secretário municipal de Mobilidade Urbana e diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Luis Cappellari, explica que a prefeitura não irá implantar a faixa exclusiva para o transporte coletivo na Ipiranga sem um estudo técnico detalhado do caso. Conforme o secretário, a EPTC realiza no momento o estudo de implantação dessas faixas em 10 vias de Porto Alegre, mas não quis revelar se a Ipiranga está entre as analisadas.
O que diz a proposta do vereador Marcelo Sgarbossa (PT):
"A Avenida Ipiranga possui potencial para receber faixa exclusiva de coletivos, sobretudo, levando-se em conta que é uma via com três faixas de rolamento em cada sentido e com fluxo superior a 30 ônibus por hora. Sem esquecer que, notadamente, é uma das avenidas de maior circulação de veículos, haja vista que na sua extensão estão localizados grandes centros comerciais e instituições universitárias (como a UFRGS e a PUC)."
De acordo com o vereador, a medida "irá permitir maior fluidez na circulação viária de ônibus e lotações, ocasionando, assim, uma maior regularidade no cumprimento dos horários, com a diminuição do tempo de duração das viagens e de espera para os passageiros que aguardam nas paradas. Com isso, mais pessoas serão incentivadas a utilizar o transporte coletivo, o que poderá reduzir o número de veículos particulares trafegando pela via."