Longe dos holofotes desde o final do ano passado, o projeto de revitalização da orla do Guaíba está voltando à cena em Porto Alegre depois que técnicos da prefeitura se debruçaram sobre os 5.183 itens do orçamento para uma revisão detalhada. Na tarde desta sexta-feira, o resultado foi entregue pelo secretário do Gabinete de Desenvolvimento e Assuntos Especiais (Gades) da prefeitura, Edemar Tutikian, ao prefeito José Fortunati. Após diversas previsões de valor para a obra, o custo reduziu 21%, dos R$ 74 milhões no projeto inicial original para os atuais R$ 58 milhões.
- É um momento marcante para a cidade. Eu fico extremamente emocionado. Foi um trabalho árduo, complexo e penoso que chegou em sua parte final. Se espera por isso há muitos anos. Se fala na revitalização da orla desde antes de o Guaíba ficar poluído. Todo mundo diz: Porto Alegre está de costas para o Guaíba. É verdade. Com essa deterioração da orla, acabamos nos afastando. De um lado, a água poluída, de outro, a orla sem oferecer condições adequadas de segurança e acessibilidade - afirmou o prefeito.
A primeira fase do projeto, de autoria do arquiteto paranaense Jaime Lerner - cuja contratação foi polêmica, por notório saber, por R$ 2,1 milhões, e motivou discussões acaloradas -, modifica 1,5 quilômetro de área costeira entre a Usina do Gasômetro e a altura da Rótula das Cuias. O Executivo tratou de adequar o projeto a observações feitas por técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE) em relação a alguns itens. É o caso dos postes de LED. Já os decks no Guaíba previstos no projeto original foram barateados por decisão da própria prefeitura, aponta Fortunati.
Secretário Edemar Tutikian apresentou detalhes do projeto ao prefeito na tarde desta sexta-feira
Foto: Evandro Oliveira, PMPA, Divulgação
A prefeitura procurou diminuir o preço desses itens sem mudar muito a estética nem reduzir a qualidade. Assim mesmo, as negociações com o escritório do arquiteto foram duras. O prefeito admite que, inicialmente, Lerner não gostou muito das propostas de alteração. Aos poucos, se chegou a um meio termo, salienta Fortunati. Resumidamente, os postes trocaram o formato quadrado pelo arredondado. Quanto aos decks, as alterações foram mais no tipo de material.
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Um relatório sobre o projeto ainda será encaminhado ao TCE. O prefeito entende que o edital poderia ser publicado em 15 dias. O valor máximo da obra na licitação será de R$ 58 milhões. Depois de todos os trâmites licitatórios, a obra duraria um ano.
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Por telefone, logo após receber os documentos da revitalização da orla do Guaíba no Paço Municipal, o prefeito José Fortunati falou a Zero Hora sobre o projeto e sobre o Cais Mauá:
Zero Hora - O que foi exatamente que os técnicos do TCE observaram no projeto de revitalização da orla?
José Fortunati - Foram várias observações. A principal delas, que teve mais impacto, foi em relação aos postes, que acharam (o valor) em demasia. Não vou colocar um poste de eucalipto na orla, que seria o mais barato. Fomos discutindo e chegamos a um meio-termo. Não mudamos a concepção do poste, mudamos o material e chegamos a um acordo. Assim, resolvemos o principal problema.
ZH - Que outro exemplo de redução de custo pode ser dado?
Fortunati - Os decks do Guaíba, que são parte destacada do projeto. Tem um deck enorme em frente à usina e um ancoradouro aos barcos de turismo. Ele tinha um valor bem expressivo. A nossa equipe trabalhou para dar condições a que os barcos pudessem atracar e reduzindo de forma muito sensível o valor. Os outros dois decks, que servirão para que as pessoas caminhem sobre as águas, também reduziram os valores.
ZH - Como foi tratar essas mudanças com o escritório de Jaime Lerner?
Fortunati - Ele é muito cioso, e tem toda a razão. Se começa a mudar aqui e acolá, descaracteriza completamente o projeto. Tudo foi feito consultando o Lerner. Na questão dos postes, ele não gostou. Ele entendia que não devia haver mudanças. Depois de muita negociação com a equipe dele, chegamos a um termo intermediário.
ZH - São postes meio inclinados. Mudou alguma coisa disso?
Fortunati - Não, continua, do ponto de vista da estética e da viabilidade. Mudamos um pouco o material e a conformação. Continua sendo iluminação de LED, também.
ZH - Como será a integração com o Cais Mauá?
Fortunati - Ele é o arquiteto do Cais Mauá. Pensamos: vamos aproveitar que o Laime Lerner esteve aqui estudando o projeto do Cais Mauá, ninguém melhor do que ele para dar continuidade com o projeto da orla. Há uma continuidade natural entre o cais e a usina. Essa integração, o projeto prevê.
ZH - Há um shopping previsto exatamente para aquele ponto.
Fortunati - Sim. Ele faz a ligação. Ele tem características para preservar a imagem da Usina do Gasômetro, por isso está em uma altura menor. Está em um espaço que permite que as pessoas passem caminhando pelo shopping e se dirijam aos armazéns do Cais Mauá. Há uma sequência sem qualquer interrupção.
ZH - As pessoas poderão ir caminhando ao longo de toda a orla e todo o Cais Mauá, sem interrupção?
Fortunati - Assim que os dois projetos estiverem prontos, as pessoas poderão ir caminhando ou de bicicleta desde a altura da rodoviária por toda a extensão dos armazéns, até a Usina do Gasômetro e continua indo ao Beira-Rio. Sem qualquer tipo de bloqueio.
ZH - Uma das principais críticas aos projetos é o risco de que setores sejam fechados ou privatizados.
Fortunati - Não. Do ponto de vista que quem está na orla, teremos uma continuidade absoluta. Não haverá qualquer impedimento, obstáculo ou anteparo que não permita que as pessoas circulem livremente de uma ponta a outra.
ZH - Há um movimento que pede a preservação total dos armazéns do Cais Mauá, e não só dos que são tombados. O senhor sabe disso?
Fortunati - Não sei, mas isso é um debate que já foi vencido. O projeto é licenciado, teve uma licitação pública, estamos na finalização do Estaduo de Viabilidade Urbanística. É o tipo de proposta de quem não quer que o projeto saia. Como o projeto já foi discutido amplamente, foi a audiência pública etc., qualquer tentativa de modificação é uma tentativa de implodir o projeto.