Localizado em uma península estreita, o Centro não cresceu apenas para os lados, via aterros no Guaíba. Na Porto Alegre dos anos 1920, torres de igrejas eram os gigantes que dominavam de cima o panorama do Centro. Em pouco mais de duas décadas, elas estavam convertidas em anãs, ocultas no meio de um paliteiro de edifícios que chegavam a alcançar os cem metros. Essa fúria construtora que fez a cidade crescer para o alto infiltrou o germe da degradação no coração da Capital.
O oba-oba construtivo teve seu ápice entre os anos 1930 e 1950 e foi fomentado pelas autoridades. A legislação municipal proibiu prédios de madeira no Centro, sobretaxou edificações térreas, estabeleceu um número mínimo de pavimentos para certas áreas e foi generosa no corte de impostos para arranha-céus.
- Havia incentivos para a construção. Quanto mais andares, menores eram os impostos. A ideia era que as novas avenidas que surgiam no Centro deveriam ter grandes edifícios, que servissem de símbolo da modernidade - disse a professora Nara Helena Machado, que fez seu doutorado sobre as transformações urbanas dos anos 1930.
A febre vertical valorizou o Centro a princípio. Atraídas pelo modismo norte-americano da moradia em espigões, famílias de alto poder aquisitivo instalaram-se no bairro. Abrir escritório em um arranha-céu virou sinônimo de requinte. A face desagradável do processo não tardou a revelar suas feições. A concentração excessiva em um território na forma de península estrangulou o Centro pela dificuldade de acesso e de tráfego. A debandada foi a resposta diante do clima irrespirável, deixando um legado de prédios abandonados e centenas de apartamentos e escritórios vazios.
Quando isso ocorreu, o crescimento de edifícios já havia sido podado. Ainda hoje, os prédios mais altos da cidade datam dos anos 1950 e estão localizados no Centro. A expansão para o alto foi contida pelo primeiro plano diretor, em 1959. Passaram então a existir restrições com relação ao número de pavimentos, estabelecendo em 70 metros o limite máximo sem necessidade de recuos. Os planos seguintes, de 1979 e de 1999, foram ainda mais restritivos. A partir dos 30 metros de altura, os edifícios devem ter um recuo de dois metros por pavimento.
*Reportagem publicada originalmente em 13 de abril de 2006.