Os nomes de alguns bairros da Capital permitem fantasias nem sempre verdadeiras. Qual o início do Bom Fim? Encontra-se deuses gregos no Partenon? Há pedras preciosas no Cristal?
Em muitos casos, não há mais nem vestígios dos elementos que serviram de inspiração para as denominações que perduram até hoje. Veja a história da nomenclatura de alguns bairros de Porto Alegre.
Partenon
O sonho era ter uma réplica do Partenon, templo em homenagem à deusa grega Minerva, localizado em Atenas, naquela região de Porto Alegre. A obra não deslanchou, mas o nome pegou. Tudo começou com um grupo de literatos, que criou a Sociedade do Partenon Literário, no ano de 1868, e sonhava contruir uma réplica da estrutura grega. Cinco anos depois, onde hoje é a Igreja Santo Antônio, nos altos da rua Luis de Camões, foi solenemente lançada a pedra fundamental da versão gaúcha do templo, que acabou não sendo construído. Na mesma época foi criado um plano de urbanização e loteamento da área, que usufruiria do nome. A sociedade se dissolveu em 1899, foi-se o plano da réplica, mas ficou o batismo do bairro.
Glória
Há duas versões para a denominação do bairro Glória. A primeira e mais tradicional diz que o nome remete à figura de Dona Maria da Glória, esposa do Coronel Manoel Py, dono de um sobrado que servia de referência para a região. A segunda, como observou o historiador Sérgio da Costa Franco, seria por fator político: Luiz Silveira Nunes, herdeiro da família Nunes, colocou à venda, em 1890, lotes de terrenos que possuía na estrada da Cascata, denominando o local Arraial da Glória, em homenagem a "gloriosa" proclamação da república no ano anterior.
Tristeza
Assim como outros bairros da zona sul da cidade, originalmente o bairro Tristeza tinha características rurais e de muita tranquilidade, longe da movimentação do centro da cidade. A origem do nome remete a isso: um dos primeiros moradores da região, José da silva Guimarães, possuía uma chácara na área hoje conhecida como Vila Conceição. O semblante do pioneiro, considerado triste, acabou por designar o seu apelido, que acabaria se tornando o nome do bairro.
Passo D'Areia
Pelo menos na área visível, a areia já se foi há muito tempo. O passo até resistiu por mais tempo, mas também deixou de existir. O riacho batizado de "Ibicuiretã" ( que significa "rio de areia", "água que corre sobre pó") pelos índios que viviam na região brotava na baixada da Boa vista. Os açorianos rebatizaram como Passo da Areia. Com a urbanização, foi canalizado e virou uma vala. O mau cheiro das águas polúidas se foi quando o passo foi aterrado, nos anos 1980. Do nome Ibicuiretã restou uma bela história de amor. Na tribo Tapi-mirim, instalada naquela área, uma índia, apaixonada pelo recém eleito chefe da aldeia, precisou disputar no arco e flecha com outra pretendente o seu amor. Nervosa, a índia Obirici perdeu. Chorou tanto, mas tanto, que suas lágrimas formaram um riacho na areia, o futuro passo. Os índios não estão mais na região, mas ficou Obirici, em forma de estátua e viaduto.
Cristal
Pode ser que realmente haja (ou houve) pedras preciosas por lá. Há duas versões para o bairro ter o nome de Cristal: a primeira fala que o General Bento Gonçalves da Silva e sua tropa, anos antes da Revolução Farroupilha, teria repousado sob a sombra de uma figueira na região - conservada até hoje pelos moradores do bairro. Como uma das estâncias de Bento chamava-se Cristal, pode ter sido este o motivo do nome do bairro. A segunda versão trata do fato de que, no espaço onde se consagrou o bairro, havia uma rica concentração de quartzos, que brilhavam no solo da região, eis o porquê do nome.
Bom Fim
Inicialmente chamada de Campo da Várzea, uma área pública de aproximadamente 69 hectares que servia para a guarda do gado trazido para o abastecimento local, o bairro que se tornaria o mais boêmio da cidade cem anos depois, teve sua denominação alterada para Campo do Bom Fim, em função da construção da Capela Senhor do Bom Fim, junto ao futuro prolongamento da rua Barros Cassal. A construção da capela teve início em 1867 e conclusão apenas em 1872. Então, o Bom Fim inicia com a fé, mas se consagra com a musicalidade de Nei Lisboa, Kleiton & Kledir e a cena musical gaúcha dos anos 1980.
Cavalhada
A origem do nome do bairro é uma das mais remotas da cidade e remete ao século XVIII. Foi por lá que o sesmeiro André Bernardes Rangel teve expropriadas suas terras para a constituição de um campo para a guarda da cavalhada, pertencente à Fazenda Real e a serviço de Porto Alegre. Como o local passou 20 anos com esse propósito, ficou conhecido como Cavalhada del Rey ou Campo da Cavalhada. Com a devolução do rincão ao mesmo sesmeiro, a Fazenda Real se transferiu para Viamão. Entretanto, houve denúncias de que Rangel teria conseguido a devolução de uma terra pela qual já havia obtido indenização, mas aquelas terras não voltaram à posse governamental.