Nas sociedades pobres, exploradas e de um patriarcalismo arcaico da África, há várias classes de predadores, e os animais selvagens não chegam a ser os piores dentre eles.
É essa a discussão central do romance A Confissão da Leoa, obra mais recente do escritor Mia Couto publicada no Brasil. O moçambicano é o destaque da programação do último fim de semana da Feira do Livro.
Couto vai participar de um bate-papo às 18h30min, no Teatro Sancho Pança, no Cais do Porto, com Jane Tutikian, Ruy Carlos Ostermann e Donaldo Schüler. A organização da Feira espera tanto público que serão distribuídas senhas para o evento, que devem ser retiradas a partir das 10h deste domingo, no Balcão Central de Informações da Feira, na Praça da Alfândega. Às 19h, o autor autografa seu novo romance.
No caso de Mia Couto, o enredo, embora muitas vezes seja original e instigante, não é necessariamente o coração da obra. É a forma de contar, com uma linguagem limítrofe com a poesia, inventando palavras novas e sentidos frescos para as antigas, que muitas vezes toma a frente da ação. Neste A Confissão da Leoa, uma aldeia isolada, parada no tempo e praticamente restrita a ser um anexo de seu cemitério, passa a ser alvo de ataques persistentes de leões que invadem o lugarejo e matam duas dezenas de pessoas.
Devido aos interesses de uma empresa petroleira em se estabelecer no local, um homem é enviado para caçar o animal e restabelecer a paz no local - acompanhado de um escritor que pretende escrever um livro sobre a viagem, um personagem sarcasticamente calcado no próprio Mia Couto. A história alterna os pontos de vista entre o caçador enviado à aldeia, Arcanjo Baleiro, e uma mulher que o conheceu 16 anos antes, mantida escondida pelos pais para evitar que fuja com o forasteiro.
Esse é o coração do livro: as mulheres estão sendo atacadas por feras ou por algo pior e mais humano?
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