O escritor e jornalista de ZH Marcelo Monteiro passou cerca de três anos fazendo pesquisas sobre o submarino alemão U-507, que torpedeou cinco navios brasileiros na costa nordestina em 1942. Foi o motivo para ser declarada a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, pelo então presidente Getúlio Vargas. O resultado de sua pesquisa se tornou um livro reportagem, que o jornalista autografa na Praça neste sábado, às 18h.
Zero Hora - De onde surgiu o interesse em ir atrás das histórias do submarino alemão U-507?
Marcelo Monteiro - No fim de 2008, estive no sul da Bahia para produzir uma reportagem de turismo. Lá, conheci um professor de história, que me falou sobre o fato de a cidade de Valença ter abrigado os náufragos dos navios Itagiba e Arará, os dois últimos a serem torpedeados pelo U-507, no dia 17 de agosto de 1942. Desde criança, sempre me interessei pela II Guerra. Quando me dei conta de que praticamente nunca tinha ouvido falar sobre o episódio, imaginei que estava diante de uma boa pauta.
Zero Hora - Como foi a procura das fontes, principalmente a sobrevivente Walderez Cavalcante?
Marcelo Monteiro - Depois da viagem a Valença (BA), comecei uma pesquisa em bibliotecas e acervos de jornais, além de fazer entrevistas, em busca de pistas sobre sobreviventes. Com o tempo, encontrei algumas pessoas, e o material acabou virando uma série de reportagens nos jornais Diário de São Paulo e Hoje em Dia, e nas revistas Superinteressante e Aventuras na História. Estava quase desistindo de encontrar dona Walderez. Depois de ligar para quase todas(os) Walderez Cavalcante do Brasil, acabei encontrando-a no Orkut. No ano passado, diante da aproximação dos 70 anos da declaração de guerra, decidi transformar o material em livro.
Zero Hora - O que foi mais difícil nesses três anos de trabalho? O custeio veio do seu próprio bolso?
Marcelo Monteiro - Sem dúvida, o mais difícil foi encontrar os náufragos. As possibilidades de se localizar sobreviventes de uma tragédia ocorrida há sete décadas ainda lúcidos e com disposição para falar de um assunto tão traumático são pequenas. As viagens foram todas bancadas com recursos próprios. Como jornalista, me sentiria extremamente frustrado se tivesse deixado de ir a fundo nessa pesquisa por razões financeiras. Me sentia com a obrigação de ir o mais longe que pudesse. Me sacrifiquei, pessoalmente, sob esse aspecto, mas acho que valeu - e muito - a pena. Mesmo que o livro não tivesse saído, só a emoção vivenciada no reencontro de dona Walderez e de dona Vera, no ano passado, já teria valido a pena. As duas foram fotografadas, ainda crianças, em 1942. Em 2011, promovi o reencontro delas, no Rio de Janeiro.