Para saudar esta quarta-feira em que a programação da Feira do Livro é quase inteiramente poética, Zero Hora resolveu provocar autores a compor em plena Praça.
Sentados entre Drummond e Quintana, no banco da famosa estátua da Rua da Praia, 10 poetas foram convidados a escrever versos em no máximo 20 minutos.
O exercício começou simples e se complicou à medida em que ia ganhando forma. Além do tempo contado, os escritores foram solicitados a escolher, para o enredo, duas entre cinco palavras relacionadas ao evento: patrono, pipoqueiro, chuva, balaio e banca. O lugar, à sombra das figuras de bronze, poderia ser encarado como inspiração ou intimidação. Pedro Gonzaga, que está lançando A Última Temporada, foi o primeiro a chegar e, para ele, o mineiro representou uma sombra.
- Com o Quintana, eu até não me intimido, mas sentar para escrever um poema com o Drummond olhando por cima do meu ombro pode ser inquietante - revelou Gonzaga.
Para facilitar a vida dos convidados, os repórteres de ZH ofereceram bloco e canetas. A maneira como cada um lidou com o material é um sinal da variedade do universo poético: Ricardo Silvestrin, o segundo a ocupar seu lugar, compôs em um iPad. Luiz de Miranda só escreve em folhas de caderno, ajustando o tamanho do poema ao da folha - ele levou uma para a Praça. Álvaro Santi e Ana Mello levaram seus próprios blocos, e Ronald Augusto usou o de Zero Hora, mas escreveu ao comprido, como em um talão de cheques.
A relação dos poetas com os 20 minutos estipulados também foi um indício das diferenças de métodos de criação. Silvestrin concluiu em 18 minutos e passou os três primeiros apenas sentado, olhando as copas das árvores e os passantes. Miranda terminou em cinco e ainda achou muito.
- Minha média é de três minutos - disse o compositor de inspiração pampiana.
A bem falante Maria Carpi, 73 anos, que está lançando O Senhor das Matemáticas, orgulhou-se da própria performance.
- Me deram 20 minutos para fazer um poema. Fiz em 10! - contou ao rapaz com quem dividiu um dos bancos.
Mãe do poeta e cronista Fabrício Carpinejar, Maria teve sua breve composição apreciada no calor da hora. Ao declamar seus versos para uma gravação em vídeo, recebeu a aprovação entusiástica do funcionário público Alexandre dos Santos, 43 anos, que passava por ali e parou para ver a movimentação.
- Muito bonito. Ficou muito bonito mesmo - aprovou Santos.
Maria decidiu esperar por Luiz Coronel, que chegaria em seguida. Logo vieram Ana Mello, que rascunhou em um caderno com a figura de Fernando Pessoa, e Álvaro Santi. O autor de Luta + Vã preferiu se refugiar um banco adiante, buscando o silêncio possível na algazarra da praça. Santi esgotou o tempo regulamentar e ainda passou a limpo:
- Se deixarem, escrevo mais seis estrofes.
Coronel logo apareceu, cumprimentando os colegas de gincana e atraindo a atenção dos visitantes da Feira. Enquanto se acomodava entre as estátuas, o povo puxava assunto:
- Posso apertar a sua mão? - pediu um leitor. - Tenho três livros seus - apressou-se em informar.
- Mas três é muito pouco para quem tem 52 editados! - brincou o patrono, aplaudido por um pequeno grupo ao declamar.
Luiz de Miranda, em 5 minutos