O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, compareceu nesta terça-feira (19) à sede da Polícia Federal para prestar novo depoimento. Ele foi convocado no âmbito da Operação Contragolpe, que prendeu cinco pessoas pela manhã, suspeitas de arquitetar um atentado contra o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribual fedaral (STF) Alexandre de Moraes, em 2022, após a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas.
Durante três horas em que esteve na sede da corporação, segundo o jornal O Globo, Cid afirmou desconhecer o plano de atentado.
A PF recuperou dados que haviam sido apagados dos computadores de Mauro Cid e que foram usados para cruzar informações que resultaram na prisão de um policial federal e quatro militares na operação.
Mauro Cid admitiu ter apagado mensagens e arquivos, porém justificou que "até então, jamais imaginou estar cometendo alguma ilegalidade em apagar suas mensagens", ainda conforme o Globo. Em nota, a defesa do coronel disse que ele "sempre esteve à disposição da Justiça, respondendo a tudo que lhe perguntado". "Se ainda há algo a ser esclarecido, ele o fará, com toda presteza", acrescenta o texto.
A PF enviou ao STF um relatório que aponta as omissões e contradições dos depoimentos de Mauro Cid para que a Corte decida sobre a anulação do acordo de delação premiada firmado com o ex-assessor. A medida não anularia a delação, mas cancelaria os benefícios, entre eles, o direito de permanecer em liberdade.
Prisões anteriores e o acordo
Mauro Cid foi preso em maio de 2023, no âmbito do inquérito que apura fraudes em certificados de vacinação contra a covid-19. Ele ficou preso em um batalhão da Polícia do Exército, em Brasília, até 9 de setembro, quando firmou acordo de delação premiada com a PF e foi solto por decisão do ministro Alexandre de Moraes.
Ele cooperou com a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado que teria sido elaborada no alto escalão do governo Bolsonaro.
Em março deste ano, foi preso novamente por descumprimento de cautelares impostas e por obstrução de Justiça. Na ocasião, houve o vazamento de áudios em que o ex-ajudante de ordens critica a atuação do relator dos casos, ministro Alexandre de Moraes, e afirma que foi pressionado pela PF a delatar episódios dos quais não tinha conhecimento ou “o que não aconteceram”.
Mauro Cid foi solto novamente em maio, em liberdade provisória concedida pelo ministro. Moraes decidiu manter a validade do acordo de delação após a confirmação das informações pelo militar, durante a audiência na qual ele foi preso.
Omitir informações no contexto de uma delação premiada, contudo, é uma grave violação do acordo, que exige a revelação completa de tudo que o delator sabe sobre os crimes investigados.