A Polícia Federal (PF) cumpre, nesta quinta-feira (11), cinco mandados de prisão preventiva na Operação Última Milha — investigação sobre monitoramento ilegal de autoridades públicas e produção de notícias falsas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) do governo Jair Bolsonaro. A ofensiva mira auxiliares diretos do ex-chefe do órgão, Alexandre Ramagem (hoje deputado federal), além de influenciadores do chamado "gabinete do ódio".
A Abin é o órgão principal do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e tem como função conceder informações estratégicas e confiáveis ao Palácio do Planalto. Os informes são enviados ao Poder Executivo por meio de relatórios, com a finalidade de evitar possíveis ameaças ao Estado democrático de direito e à soberania nacional.
De acordo com investigadores da PF, no governo passado, foi instalada uma "Abin paralela" para monitorar pessoas consideradas adversárias de Bolsonaro e atuar por interesses políticos e pessoais do ex-presidente e de seus filhos.
O grupo instalado na Abin teria usado um "software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira" para rastrear celulares "reiteradas vezes". Os crimes teriam sido praticados sob o governo Bolsonaro. À época, o órgão era comandado por Alexandre Ramagem.
O sistema de monitoramento é capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G. Para encontrar o alvo, basta digitar o número do seu contato telefônico no programa e acompanhar em um mapa a última posição.
Desenvolvido pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint), o FirstMile se baseia em torres de telecomunicações instaladas em diferentes regiões para captar os dados de cada aparelho telefônico e, então, devolver o histórico de deslocamento do dono do celular.
Durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro, a Abin teria usado, sem qualquer protocolo oficial, a ferramenta FirstMile para monitorar os passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses.
Em janeiro, a investigação se desdobrou na Operação Vigilância Aproximada, que mirou o deputado federal Alexandre Ramagem, o vereador Carlos Bolsonaro, policiais federais cedidos à Abin no governo Bolsonaro e ex-superintendentes regionais da agência.
Além do sistema de monitoramento, a Abin paralela utilizou equipamentos como microfones direcionais, câmeras escondidas, drones e malwares. Um servidor relatou em uma investigação interna da Abin que, em 2021, o órgão decidiu adquirir uma série de drones para operações de vigilância nas superintendências regionais.
O servidor relatou ainda que integrantes da Abin utilizavam "equipamentos sensíveis" sem cautela como microfones direcionais de "alcance de algumas centenas de metros", câmeras e outras ferramentas "para uso tático em campo".