Indiciado por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro no inquérito das joias sauditas, o ex-presidente Jair Bolsonaro "subtraiu diretamente" esculturas douradas de um barco e de uma árvore, além de um relógio Patek Philippe. A conclusão é da Polícia Federal (PF).
Relatório da PF aponta que o grupo montado no governo do ex-presidente usava duas formas para desviar joias e presentes de alto valor dados ao ex-presidente em razão de seu cargo. Um deles envolvia a subtração direta dos itens, por Bolsonaro, sem passar pelo Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência (GADH), conforme a PF.
Segundo a PF, o relógio Patek Philippe Calatrava foi dado ao ex-presidente da República quando ele visitou o Reino do Bahrein, nos dias 16 e 17 de novembro de 2021. "O bem foi desviado do acervo público brasileiro, sem registro no GADH, e posteriormente foi vendido em loja especializada nos Estados Unidos em junho de 2022", diz a PF.
As esculturas douradas de um barco e uma árvore (Palm Tree) foram entregues a Bolsonaro quando viajou para os Emirados Árabes Unidos e o Reino do Bahrein, em novembro de 2021.
"Os bens foram desviados do acervo público, sem registro no GADH e posteriormente foram levados, de forma escamoteada, aos Estados Unidos, por meio do avião Presidencial. Por meio de interpostas pessoas, o grupo investigado tentou vender as esculturas em lojas especializadas na cidade de Miami mas, como não eram constituídas por ouro maciço, conforme pensavam os investigados, não obtiveram êxito nas negociações", indicou a PF. Ainda de acordo com os investigadores, as esculturas e o relógio ainda não foram recuperadas.
A Polícia Federal implica o general Mauro Cesar Cid, pai do delator Mauro Cid, a tentativa de venda dos presentes. Segundo os investigadores, enquanto lotado no escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos em Miami, ele usou sua conta bancária para receber o valor decorrente da venda dos relógios Rolex Daydate, outro bem supostamente desviado pela associação criminosa, Patek Philippe, em 13 de junho de 2022 para a empresa PRrecision Watches.
Contraponto
Pelas redes sociais, Bolsonaro falou sobre a correção feita pela PF no valor que teria sido desviado. No relatório enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do caso, a PF disse inicialmente que o valor estimado dos desvios seria de R$ 25 milhões. Em seguida, o delegado responsável pelo caso retificou a informação e disse que o montante pode chegar a R$ 6,8 milhões.
"Aguardemos muitas outras correções. A última será aquela dizendo que todas as joias desviadas estão na CEF, acervo ou PF, inclusive as armas de fogo. Aguarda-se a PF se posicionar no caso Adélio: ‘quem foi o mandante?’ Uma dica: o delegado encarregado do inquérito é o atual diretor de inteligência", escreveu em sua conta no X (antigo Twitter).
Adélio, ao qual Bolsonaro se refere, é o autor da facada no ex-presidente durante a campanha eleitoral de 2018, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Apuração indicou que ele agiu sozinho.
Os advogados de Jair Bolsonaro se manifestaram por meio de nota, divulgada na noite desta segunda-feira por alguns veículos jornalísticos, como a CNN Brasil. No posicionamento, a defesa do ex-presidente afirma que a entrega de presentes à Presidência da República obedece protocolos rígidos e que o "insólito" inquérito da Polícia Federal "volta-se" a Bolsonaro, ignorando supostas ocorrências iguais em gestões anteriores. A nota ainda alega que o ex-presidente, desde que soube da investigação sobre a destinação dos presentes, colaborou com o trabalho. Os advogados de Bolsonaro ainda dizem que há "evidente incompetência" do Supremo Tribunal Federal sobre a investigação, que eles entendem que deveria estar correndo na primeira instância.