Organizações e voluntários que atuam na causa animal criticaram nesta terça-feira (25) a proposta de pagamento de um vale-adoção de animais resgatados da enchente no valor de R$ 450. A proposta, anunciada na segunda-feira pelo governo do Estado, prevê repasse de duas parcelas do valor por animal adotado. O limite previsto é de dois animais por pessoa. A primeira parcela seria paga logo após a adoção. O segundo pagamento seria feito após o animal passar por um acompanhamento.
Segundo os grupos, a política pode fomentar o interesse pela adoção apenas em troca do dinheiro. Isso poderia levar animais a serem devolvidos posteriormente para as ruas.
— As pessoas que vão adotar ganham tudo, ração, camas, coleiras, tudo, até medicação. Tudo o que foi doado aos abrigos é repassado. Não há custos por dois meses. As pessoas não saem dos abrigos com dificuldades de manter o animal — argumenta Daisy Vivian, médica veterinária que atuou como voluntária em um abrigo, agora já fechado, de Porto Alegre.
O governo argumenta que a fiscalização se dará por meio de microchipagem. Assim, seria possível até mesmo promover sanções a quem descumprir o acordado. Porém, a medida não traz segurança aos grupos de defesa da causa animal.
— O microchip tem um grande problema. Muita gente coloca, inclusive a prefeitura castra com o microchip, e não são colocados nem os dados do animal. Tu sabe de que cidade ele é, mas não tem os dados dos tutores. Acontece muito isso. E muita gente também resgata animais perdidos e nunca nem imaginam de pegar um leitor de microchip — afirma a voluntária Deise Falci.
Os grupos defendem, principalmente, que o valor seja investido nos abrigos temporários, além de campanhas de adoção conscientes, visando coibir apenas a busca financeira.
— Estive à frente de um abrigo por 46 dias, até o abrigo ser encerrado. Em nenhum momento, teve uma pessoa do governo do Estado nos visitando para perguntar se a gente precisava de ajuda ou de algum auxílio com estrutura. Então, eu não consigo enxergar que eles possam fazer esse tipo de fiscalização — afirma Mariana Teixeira, coordenadora da ONG Vets de Rua.
Em entrevista ao Gaúcha Mais na tarde desta terça-feira (25), o vice-governador do Estado, Gabriel Souza, disse que a partir desta quarta-feira o governo irá avaliar as sugestões dadas por ONGs.
— Vamos conversar internamente e avaliar se é possível aproveitar algumas das sugestões. Não teremos nenhum problema, eventualmente, de mudar a proposta em algum ponto — afirmou Gabriel Souza.
Prefeituras manifestam dúvidas
Além de ONGs e voluntários, prefeituras também manifestaram dúvidas sobre o projeto. Em documento assinado por quatro secretários municipais em cidades da Grande Porto Alegre, os gestores pediram esclarecimentos. A preocupação é com a responsabilidade que possa recair sobre os municípios.
No documento, secretários de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Eldorado do Sul elogiam a iniciativa do governo em busca de soluções para o grande número de animais sem lar, mas questionam como será feita a fiscalização sobre os adotantes (leia a íntegra do texto abaixo).
Caso aprovado, o projeto prevê investimento de R$ 6,8 milhões para o pagamento do auxílio. Conforme dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 15.259 animais estão abrigados em 353 locais de todo o Estado — a maior parte em Canoas (5.335) e em Porto Alegre (4.223).