O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem o cenário mais favorável para governar desde que assumiu o cargo, em 2021.
— Se você olhar três anos de trabalho meu para frente: qual pauta-bomba foi pautada, qual instabilidade ocorreu na transição de um governo para outro? Não há nenhum governo desde que entrei na presidência da Casa que tenha tido melhores condições de governar o país — afirmou Lira, em entrevista ao programa Conversa com Bial, exibido pela TV Globo na noite da terça-feira (23).
O deputado citou a aprovação da reforma tributária, no ano passado, como um exemplo da boa relação com a gestão petista, a despeito dos desacertos com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Maiores desafetos de Lira com governo Lula ficaram latentes após Lira chamar Padilha de "desafeto pessoal" e de "incompetente". Na sequência, o presidente Lula rebateu a afirmação, dizendo que "só de teimosia" Padilha continuaria por "muito tempo neste ministério".
Lira admitiu que errou em expor a rixa com o ministro responsável pela articulação política, mas alegou que a insatisfação já era conhecida por interlocutores do governo.
— — Eu tenho erros e acertos e não tenho problema de reconhecê-los. Mas eu já vinha apontando ao governo há alguns meses que não funciona a articulação política. Se você prestar atenção, há um esforço muito grande para que as matérias cheguem maduras ao plenário — afirmou Lira
Questionado pelo apresentador Pedro Bial quanto ao que Padilha teria feito a ele, o presidente da Câmara foi evasivo:
— Fez várias (coisas), mas vamos tratar disso com muito cuidado e cautela.
Sobre a relação com Lula, Lira afirmou que não tem do que se queixar:
— Ele se preocupa com a equiparação do nível de crescimento, principalmente das camadas mais pobres.
Lira criticou deputados da base governista ligados a minorias que recorrem ao Judiciário para contestar derrotas que sofrem no Congresso e sugeriu a possibilidade de impor restrições à apresentação de Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adins) junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente da Câmara também negou ter um deputado preferido para suceder-lhe no cargo, em fevereiro.
— Nenhum deputado ouviu de mim que meu candidato é A, B ou C —disse.
Judiciário tem seus excessos, diz Lira
Durante a entrevista, Lira também sustentou que o Supremo Tribunal Federal (STF) "tem seus excessos". Para o deputado, o Judiciário está se sobrepondo às prerrogativas do Legislativo, o que leva os parlamentares a "reagir".
— Vai além das suas funções e começa a legislar, e o Congresso reage — disse Arthur Lira.
O presidente da Câmara voltou a defender a restrição de quem pode ou não ingressar com Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs), recursos julgados pelo STF que podem anular ou modificar legislações aprovadas pelo Congresso. Para Lira, o recurso no Judiciário tumultua a relação entre os poderes.
Lira nega influência na votação pela prisão de Brazão
Lira negou que tenha influenciado a votação que autorizou a manutenção da prisão preventiva de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), apontado pela Polícia Federal (PF) como o mandante da execução da vereadora Marielle Franco, em 2018.
Para o deputado, o que estava em pauta não era o mérito do caso, e sim uma questão processual. Além disso, segundo Lira, a decisão do voto foi individual. A queixa de que o governo Lula teria influenciado a votação para que Brazão permanecesse preso foi o pivô da crise entre Arthur Lira e Alexandre Padilha.
— É uma inverdade, não há um deputado que diga que influenciei no voto. É uma discussão muito pessoal de cada partido e de cada parlamentar, ali não estávamos discutindo se matou ou se não matou, estávamos discutindo as condições da prisão — alegou.
Viabilidade de CPIs
Arthur Lira afirmou que a instalação de novas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) na Câmara será acordada entre os líderes partidários. Segundo o presidente da Casa, há de se avaliar se haverá agenda para a instalação das CPIs em um ano de eleições municipais.
— Não existe isso de colocar a faca no pescoço de nenhum governo — disse, negando que as CPIs sejam objeto de retaliação ao Executivo. Por fim, Lira negou ser "antagonista" do governo Lula e disse que nunca atuou, como presidente da Câmara, para criar dificuldades aos chefes do Executivo com os quais conviveu - seja Lula, seja Jair Bolsonaro.