O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, negou, nesta terça-feira (23), que o governo tenha problemas com o Congresso, apesar do risco de o Palácio do Planalto enfrentar "pautas-bomba" e da tensão entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Para Lula, são "situações normais da política".
— Não há divergência (com o Congresso) que não possa ser superada. Se não houvesse divergência, não haveria necessidade de a gente dizer que são três poderes autônomos. A gente não vai viver uma eterna briga, porque, se você optar pela velha briga, você não aprova nada — declarou o chefe do Executivo, em café da manhã com jornalistas.
O presidente ressaltou que o Congresso aprovou a PEC da transição, antes mesmo de sua posse, para abrir espaço no Orçamento para o governo recompor programas sociais, além de ter aprovado propostas importantes como a reforma tributária.
Lula confirmou que se encontrou com Lira no domingo (21), no Palácio da Alvorada, mas se recusou a detalhar o conteúdo da conversa.
— Eu não tive reunião com Lira, eu tive uma conversa com Lira, é diferente. Como foi uma conversa entre dois seres humanos, eu não sou obrigado a falar da conversa — acrescentou.
Derrubada de vetos
Lula disse ainda que não se irrita com eventuais decisões do Congresso de derrubar vetos que ele faz a projetos aprovados pelo Legislativo. Afirmou que "tudo isso faz parte do jogo político" e que vê esse tipo de decisão pelos deputados e senadores com "normalidade".
— Não fico nervoso ou irritado. É um papel deles, não tenho o que reclamar. Às vezes, fico incomodado com a minha incompetência de não tê-los convencido do contrário — afirmou o presidente.
"Saidinha"
Em relação ao projeto de lei que proíbe as saídas temporárias de presos, Lula disse ter seguido recomendação do Ministério da Justiça e Segurança Pública para vetar um trecho da proposta. Defendeu também o direito de alguns presos, que não tenham sido condenados por crimes hediondos, terem contato com a família para a ressocialização.
— Se o Congresso derrubar, é um problema do Congresso. Posso lamentar, mas tenho de acatar — declarou.
Preço da carne
Lula também disse nesta terça-feira que o preço da carne "tem que baixar muito mais", apesar de já ter caído após pouco mais de um ano de governo. A declaração foi dada em meio a uma resposta do presidente sobre promessas de campanha feitas em 2022.
— Eu não esqueci da cervejinha e da picanha. Eu ainda falo até hoje. O preço da carne já baixou, mas tem que baixar muito mais. Tudo isso está no nosso programa. Já fizemos a desoneração do Imposto de Renda até dois salários mínimos. Tenho compromisso de fazer até R$ 5 mil até o fim do meu mandato, e vou fazer — pontuou.
O aumento na faixa de isenção do Imposto de Renda foi aprovado no Senado na semana passada e encaminhado à sanção presidencial.
CPIs
O chefe do Executivo ressaltou que não há "nenhum problema" no fato de a Câmara dos Deputados discutir a abertura de comissões parlamentares de inquérito (CPI) e que nenhuma das que estão em pauta na Casa Baixa do Congresso envolvem o governo.
— Não tem nenhum problema em abrir CPI contra o governo. É um direito da Câmara montar CPI, o que sei é que tem várias lá e nenhuma contra o governo. É legítimo — comentou.
Quando questionado sobre uma suposta "influência" do ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha nesse debate, o presidente, porém, reforçou que não vê nenhuma ingerência dele no processo.
— Acho normal do ponto de vista político. Ele não está preso. Ele tem uma filha deputada. Portanto, tem o direito de ir ao gabinete da filha. Foi presidente da Câmara, líder do MDB. Uma vez deputado, sempre deputado. O que acho anormal é se ele estiver tendo influência política nas decisões do Congresso Nacional, o que não acredito. Ele tentou ser candidato à reeleição, teve uma votação pífia e vergonhosa. O poder que ele tinha, ele jogou no lixo — finalizou.