O relatório da Polícia Federal (PF) acerca do esquema de inserção de dados falsos em cartões de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seus familiares e aliados, apresenta um diálogo intrigante entre João Carlos de Sousa Brecha, ex-secretário de governo de Duque de Caxias (RJ), e sua filha. As informações são do portal g1.
De acordo com a PF, Sousa Brecha tinha a incumbência de executar a inserção de dados fraudulentos em cartões de vacinação. Em uma conversa por mensagens datada de 19 de outubro de 2022, revelada pelos investigadores, a filha do ex-secretário solicitou ao pai que não falsificasse as informações em seu cartão de vacinação.
"Papai, segunda-feira, eu vou tomar a segunda dose da vacina da covid-19. Não falsifica, por favor", escreveu.
O ex-secretário de Duque de Caxias respondeu:
"Tá bom, meu amor. Você é muito corajosa".
O diálogo está presente no relatório da PF, o qual foi divulgado nesta terça-feira (19), após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantar o sigilo do conteúdo.
Conforme apurado na investigação, a filha de Sousa Brecha mencionava a segunda dose da vacina, visto que já havia recebido a primeira dose do imunizante contra o coronavírus em junho de 2022 — informação que ela compartilhou em um grupo de conversas no aplicativo de mensagens WhatsApp.
"Oi, gente, tomei vacina. Nem doeu", escreveu no dia 13 de junho de 2022.
A Polícia Federal considera que as conversas entre Sousa Brecha e sua filha são mais uma evidência que reforça a responsabilidade do ex-secretário de Duque de Caxias na execução da inserção de dados falsos de vacinação de várias pessoas investigadas.
Indiciamento
Os investigadores identificam João Carlos de Sousa Brecha como responsável pela realização de inserções falsas nos cartões de vacinação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do governo Bolsonaro, nas filhas do tenente-coronel, bem como no próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na segunda-feira (18), a Polícia Federal realizou o indiciamento de João Carlos Brecha, Mauro Cid, Jair Bolsonaro e outras 14 pessoas pelo esquema em questão. No entanto, isso não implica automaticamente na culpabilidade ou punição dos envolvidos, mas sim que a polícia identificou elementos que sugerem responsabilidade pelo crime.
Após o indiciamento, a investigação conduzida pela PF será enviada à Procuradoria-Geral da República (PGR), que ficará responsável por decidir se irá apresentar denúncia contra os envolvidos ou não.
Contraponto
A defesa de Sousa Brecha optou por não comentar o indiciamento, alegando não ter tido acesso ao relatório da PF. O advogado declarou ainda que buscará acesso completo aos autos e à delação de Mauro Cid.
Durante uma operação da PF sobre o caso em 2023, Bolsonaro afirmou em entrevistas que nunca recebeu a vacina contra a covid-19 e que não houve manipulação nos registros de saúde dele e de sua filha.