O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reiterou nesta quarta-feira (21) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o governo norte-americano discorda da declaração feita pelo brasileiro no fim de semana em que comparou a operação militar israelense na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial. O chefe da diplomacia americana se encontrou com Lula em Brasília.
Na conversa de cerca de duas horas, Blinken deixou claro a Lula o entendimento de Washington de que não há um genocídio contra palestinos em curso em Gaza. O secretário teria, inclusive, mencionado que o padrasto dele foi um sobrevivente do Holocausto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Apesar disso, Blinken fez, ao final da reunião, uma breve declaração na qual afirmou que os dois países estão trabalhando juntos, de forma bilateral e global, e afirmou ser grato pela “amizade” com o Brasil.
— Foi uma ótima reunião, estou muito grato ao presidente pelo seu tempo. Estados Unidos e Brasil estão fazendo importantes coisas juntos. Estamos trabalhando juntos bilateralmente, regionalmente, globalmente. É uma parceria importante e somos gratos pela amizade — disse Blinken, na saída do Palácio do Planalto.
A declaração de Lula que desencadeou a crise diplomática ocorreu no domingo (18), durante viagem à Etiópia. Na ocasião, o brasileiro chamou de "genocídio" a operação em Gaza e disse que isso só aconteceu "quando Hitler resolveu matar os judeus".
Em nota divulgada após a reunião, o Palácio do Planalto afirmou que Lula e Blinken concordaram com a necessidade de criação de um Estado palestino. "O secretário agradeceu a atuação do Brasil pelo diálogo entre Venezuela e a Guiana. O presidente Lula reafirmou seu desejo pela paz e fim dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Ambos concordaram com a necessidade de criação de um Estado Palestino", diz a nota.
Cúpula do G20
Após a conversa com Lula, Blinken seguiu para o Rio de Janeiro, para participar da cúpula de chanceleres do G20, grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e União Africana.
Na abertura do evento, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou que as instituições multilaterais "não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais” e criticou a "paralisia" do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em relação às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. A reforma da governança global é uma das principais pautas do encontro.
— O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar. Uma parcela muito significativa do mundo fez uma opção pela paz e não aceita ser envolvida em conflitos impulsionados como nações estrangeiras — disse Vieira, que também criticou os gastos militares no mundo.