Familiares, amigos e correligionários se despediram nesta segunda-feira (4) de Aldo Pinto, ex-deputado e um dos mais influentes trabalhistas do Rio Grande do Sul. Aldo morreu por volta das 2h45min, em casa, fulminado por uma parada cardíaca. Aos 84 anos, estava afastado da rotina política e do PDT.
Deputado estadual por dois mandatos nos anos 1970, Aldo foi velado no Salão Júlio de Castilhos, ao lado do plenário da Assembleia Legislativa que tanto frequentou. O entorno da Praça da Matriz, onde morou por mais de quatro décadas, era um dos seus lugares preferidos na Capital.
— Ele adorava passear por aqui — conta a ex-mulher, Cármen Regina Silva da Silva.
Natural de Palmeira das Missões, Aldo começou a se interessar por política na adolescência, envolvendo-se em grêmios escolares e, mais tarde, nos diretórios estudantis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se formou em Agronomia. Filiado ao MDB, conquistou seu primeiro mandato de deputado estadual aos 35 anos, em 1974. Reelegeu-se quatro anos depois e, em 1979, com o fim do bipartidarismo imposto pelo regime militar, ajudou a fundar o PDT.
Nessa época, protagonizou um momento que resume sua personalidade afável e o acolhimento pessoal. Quando o Papa João Paulo II visitou Porto Alegre, em 1980, Aldo emprestou a sacada de seu apartamento, na Avenida Duque de Caxias, para que um grupo das Mães da Praça de Maio, organização de busca por desaparecidos durante a ditadura argentina, pudesse chamar a atenção do Pontífice.
— Ela haviam sido impedidas de falar com o Papa em São Paulo. Vieram a Porto Alegre, ficaram aqui na Assembleia, mas por pressão política foram retiradas. Peguei uma delas pela mão e disse que as estava convidando a ir até meu edifício. Meus filhos haviam pintado uma faixa grande, com palavras ditadas por minha sogra: "Las madres de la Plaza de Mayo piden socorro a el Papa". Eu botei a faixa na sacada do apartamento, e deixei que todas elas ficassem ali com seus lenços brancos. O papa as viu e as abençoou. Depois, elas conseguiram falar com o Papa — contou anos mais tarde, em entrevista.
No segundo mandato, Aldo presidiu a Assembleia, período em que conduziu a compra do Solar dos Câmara e, na esteira da abertura democrática, promoveu debates com lideranças internacionais de centro-esquerda. Em 1982, chegava a Brasília, eleito deputado federal.
Em 1986, Aldo disputou a eleição pela qual seria lembrado para sempre. Por imposição de Leonel Brizola, o PDT firmou uma inédita coligação com o PDS. Produtor rural e ligado à entidades setoriais do campo, Aldo foi fundamental para a celebração de uma aliança entre partidos antagônicos, concorrendo a governador e tendo como vice Silverius Kist.
Inusitada, a chapa formada por dois rivais ideológicos cresceu na esteira de um jingle poderoso. Composta por Hermes Aquino, a cançoneta "Vou de Aldo" virou o grande hit da campanha, tornando-se uma das mais populares peças de propaganda política do Estado. Todavia, Aldo ficou em segundo lugar, 20 pontos percentuais atrás do eleito Pedro Simon (MDB).
— Ele era uma pessoa da confiança de todos os lados e o Rio Grande do Sul poderia ter tido uma experiência extraordinária com seu governo. Aldo foi uma das lideranças mais autênticas que o PDT já teve. É um desses exemplos que todos devem seguir comenta o presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan.
Na eleição seguinte, em 1990, o PDT elegeu Alceu Collares governador. Aldo conquistou um segundo mandato de deputado federal no mesmo pleito, mas licenciou-se do cargo para assumir a Secretaria Estadual da Agricultura. Em 1994, disputou o Senado, mas ficou em sexto lugar.
Foi a última vez que o trabalhista concorreu a cargos públicos. Aos poucos, foi se afastando do cotidiano partidários e se dedicando mais à fazenda da família, em Palmeira das Missões. O apartamento da Duque de Caxias, porém, seguiu sendo destino de políticos em busca de conselhos e de uma boa conversa. Um habitué era Ricardo Ardenguhi, ex-presidente do PP e adversário de Aldo na política de Palmeira das Missões.
— Nossa casa era quase um comitê — afirma a filha Aline Pinto da Silva.
Em 2014, chegou a apresentar seu nome como pré-candidato ao governo do Estado, mas declinou em seguida. Com o avanço da diabetes, reduziu o ritmo de trabalho e as articulações políticas. No último ano, precisando de uma cadeira de rodas para se locomover, já pouco saía de casa. Uma pneumonia agravou seu quadro de saúde nos últimos dias.
Após o velório, Aldo Pinto será cremado, em cerimônia restrita para a família.