Responsável pela defesa de Thiago de Assis Mathar, o segundo a ser julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro, o advogado Hery Waldir Kattwinkel Júnior comparou o Complexo Penitenciário da Papuda, do Distrito Federal, ao Holocausto. A afirmação foi feita durante sua sustentação oral nesta quinta-feira (14) — cada advogado tem uma hora para se manifestar antes de os ministros votarem.
— Eu mesmo, lá na Papuda, que fui pela primeira vez visitar um cliente num presídio, normalmente são os assistentes quem vão. Eu fiquei quase 15 horas para suplicar para ver o meu cliente. Passando com água e bolachinha. E a cena que vi lá me relembrou muito o Holocausto — afirmou o advogado.
Ele disse ainda que o ministro Alexandre de Moraes "inverte o papel de julgador" e passa a "acusador":
— É um misto de raiva com rancor com pitadas de ódio quando fala dos patriotas.
Em seguida o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, rebateu o advogado, chamando-o de patético.
— É patético que um advogado suba à tribuna do Supremo Tribunal Federal com discurso de ódio, com discurso para postar depois nas redes sociais. Talvez pretendendo ser vereador do seu município no ano que vem. Digo com tristeza que o réu aguarda que ele venha aqui defender tecnicamente. O advogado não analisou nada, absolutamente nada. Preparou um discursinho para postar em redes sociais — afirmou Moraes.
Moraes afirmou ainda que a sustentação do defensor era um exemplo do que não fazer em um tribunal:
— Os alunos que aqui se encontram, do curso de Direito da Universidade de Rio Verde de Goiás, hoje tiveram aula do que não deve ser feito numa Suprema Corte. Hoje tiveram aula do que advogado constituído não deve fazer para prejudicar o seu constituinte. Ou seja, esquecer o processo e querer fazer uma média com os patriotas. Realmente é muito triste.
Moraes debochou ainda do momento em que o advogado atribuiu erroneamente a frase "os fins justificam os meios" ao livro O Pequeno Príncipe.
— Só não seria mais triste porque confundiu O Príncipe, de (Nicolau) Maquiavel, com O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry — ironizou Moraes.
Fala de Barroso
Ele ainda provocou o ministro Luís Roberto Barroso. O advogado citou uma frase descontextualizada de Barroso, de que "eleição não se ganha, se toma".
Após a sustentação oral do advogado, Barroso pediu a fala e disse que a frase descontextualizada. O ministro explicou que mencionou que fez essa fala em um evento na Câmara dos Deputados, em que citava uma declaração dada a ele pelo senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR).
— Eu, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, recebi o senador Mecias de Jesus, de Roraima. Ele disse: "Apoio o presidente, porém sou contra o voto impresso. Por duas vezes no meu Estado venci eleições no tempo do papel e me tomaram as eleições". E (Mecias) disse: "Eleição em Roraima não se ganha, se toma" — afirmou Barroso.
O ministro disse que pouco depois dessa conversa esteve em evento na Câmara dos Deputados, para expor a defesa do voto eletrônico.
— O (ex-deputado federal) Jhonatan de Jesus (filho de Mecias de Jesus) falou comigo e brincamos que eleição de Roraima não se ganha, se toma. Editaram minha fala. Tiraram contexto de que era uma fala do senador Mecias e tiraram (menção) a Roraima. E divulgaram mundo afora — afirmou Barroso.
— Evidentemente que eleição não se toma, se ganha. De boa-fé ou má-fé, essa é uma mentira que circula repetidamente. Foi até bom o advogado ter perguntado porque me permite esclarecer — afirmou.