A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou nesta quinta-feira (24), a Operação Nexum, que investiga um grupo suspeito de falsidade ideológica, associação criminosa, estelionato, crimes contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro. Um dos alvos de busca e apreensão da ação foi o filho "04" do ex-presidente Jair Bolsonaro, Jair Renan Bolsonaro. Investigadores realizaram buscas em dois apartamentos ligados a ele: um em Brasília e outro em Santa Catarina.
Rodeado de familiares políticos, o jovem se filiou a uma sigla apenas após o fim do mandato do pai. Em junho deste ano, o PL, liderado por Valdemar Costa Neto, acolheu Jair Renan com uma estratégica política bem definida: lançar o nome do jovem de 25 anos a uma vaga de vereador em Balneário Camboriú em 2024, o que serviria de trampolim para uma possível disputa a deputado federal em 2026. Assim, o ex-presidente teria filhos com carreiras políticas em três Estados diferentes: Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.
A decisão por Santa Catarina também era estratégica, já que Renan passou a integrar o escritório de apoio do senador Jorge Seif Júnior (PL-SC) em Balneário Camboriú. Nomeado em março deste ano, Jair Renan passou a exercer a função de auxiliar parlamentar pleno. Jorge Seif é uma das principais vozes do ex-presidente no Senado. Durante a gestão Bolsonaro, Seif chefiou o Ministério da Pesca. Ele se apresenta como o "06" do então presidente.
Durante o governo Bolsonaro, Jair Renan esteve no centro dos holofotes políticos diversas vezes. Em 2021, o filho do ex-presidente e seu preparador físico, Allan Lucena, se tornaram alvos da PF, suspeitos por crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro. A investigação apurou que a dupla teria recebido um carro elétrico de representantes de uma empresa e, um mês após a doação, os representantes da marca conseguiram agendar um encontro com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, do qual também participou Renan.
Um ano depois do início da investigação, um relatório da PF concluiu que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) interferiu na apuração. De acordo o jornal O Globo, um integrante da agência admitiu ter recebido a missão de levantar informações sobre o inquérito com o objetivo de "prevenir riscos à imagem" do presidente da República.
À época, Bolsonaro negou ingerência no órgão e disse que seus filhos poderiam ser investigados.
— Investigue. Não compare meus filhos com os do Lula. Vocês passaram anos sem falar do filho do Lula. Qualquer filho tem de ser investigado, agora parem de massacrar — afirmou.
Durante o governo do pai, Jair Renan, que é gamer, chegou a se reunir com o então secretário de Cultura, Mário Frias, para tratar do "futuro dos e-Sports". Em seu mandato, Bolsonaro passou reduzir imposto para consoles de videogames e jogos - o IPI foi reduzido três vezes.
O nome de Jair Renan também apareceu ligado ao lobby. Documentos obtidos pela CPI da Covid no Senado Federal mostram uma troca mensagens pelo WhatsApp em que o jovem recorre a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília. As mensagens que envolvem Jair Renan foram apreendidas pelo Ministério Público Federal do Pará no celular do lobista Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria.
Jair Renan é fruto da união de Bolsonaro com Ana Cristina Siqueira Valle, segundo matrimônio do ex-presidente. O jovem tem Flávio, Carlos, Eduardo e Laura como meio-irmãos.