O ex-presidente da República Jair Bolsonaro afirmou que usou dinheiro de sua conta bancária para pagar despesas da casa e apostar na Mega Sena. As declarações foram feitas para justificar as movimentações identificadas como suspeitas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Bolsonaro distribuiu diretamente para a própria família parte dos R$ 17,1 milhões que arrecadou via Pix. Só para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foram feitos 10 pagamentos, que somaram R$ 56.073,10.
Nas redes sociais, o ex-presidente disse que tudo que foi pago ou transferido até 23 de junho não nada tem a ver com o valor arrecadado via Pix.
As suspeitas entraram na mira da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do 8 de Janeiro. O Coaf apontou que as transferências foram feitas entre 1º de janeiro e 4 de julho e "provavelmente possuem relação" com a campanha de arrecadação promovida por aliados para pagar despesas do ex-presidente, que ficou inelegível na Justiça Eleitoral e teve bens bloqueadas por não pagar multas.
Pelo X, antigo Twitter, Bolsonaro afirmou que as despesas para os familiares ocorreram antes da campanha do Pix. Os pagamentos para Michelle foram "para despesas diversas dela, das 2 filhas e da casa". Ele ainda lembrou que recebe mensalmente o valor de duas aposentadorias e uma remuneração do PL, partido que o nomeou presidente de honra após perder a reeleição para Lula.
Os pagamentos feitos por Bolsonaro foram destacados pelo Coaf como parte das suspeitas de "burla fiscal e lavagem de dinheiro", na avaliação dos analistas do órgão.
Transferências para síndica
Bolsonaro não explicou as transferências feitas para a síndica do condomínio onde o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, mora em Brasília. Leda Maria Marques Cavalcante foi a pessoa que mais recebeu pagamentos entre janeiro e julho, com seis transferências que somaram R$ 77.994.
O Coaf, órgão responsável por comunicar às autoridades indícios de lavagem de dinheiro, também citou como suspeitos 7 pagamentos, que somam R$ 14.268,04, para a Casa Lotérica Jonatan e Felix LTDA. A empresa, localizada em Eldorado, no interior de São Paulo, está em nome de Angelo Guido Bolsonaro, irmão do ex-presidente.
Bolsonaro alegou que os pagamentos foram feitos para um sobrinho que trabalha na lotérica. "A maioria dos depósitos são (sic) múltiplos do valor da aposta de 7 números da Mega Sena. Por duas vezes, fiz a quadra nos últimos meses, daí, na contabilidade, os valores não múltiplos."
Também aparecem como destinatários de repasses de Jair Bolsonaro o tenente do Exército Osmar Crivelatti. O militar recebeu um valor total de R$ 11.543,94 do ex-presidente nesse período, em 29 transferências.
"Esse senhor não é parente meu, ele é um dos meus assessores, desde 01/janeiro, lotado na cota de 'ex-presidente'. O mesmo, por vezes, honra despesas minhas e eu o reembolso via PIX", afirmou Bolsonaro.