O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento à Polícia Federal (PF) na tarde desta quarta-feira (12). Ele confirmou que se encontrou com o senador Marcos do Val (Podemos-ES) e com o ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), mas negou que eles tenham falado sobre gravar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro afirmou que seu encontro com o senador e o ex-deputado durou cerca de 20 minutos e aconteceu no dia 8 de dezembro de 2022.
— Nada aconteceu no dia 8 de dezembro. Até porque não tinha nenhum vínculo com o senhor Marcos Do Val, talvez fotografia, o que é comum entre nós. Nada foi tratado, não tinha nenhum plano, naquela reunião de aproximadamente 20 minutos, para alguém gravar o ministro Alexandre de Moraes. Por que eu ia articular alguma coisa com o senador? O que tratou a reunião? Nada. Minha transição (com Lula) foi pacífica. Ninguém do PT questionou que não foi bem recebido e teve acesso. Tudo foi passado. Ele (Do Val) que responda pelos atos dele — afirmou o ex-presidente aos jornalistas após o depoimento.
O depoimento de Bolsonaro à PF durou cerca de duas horas. Essa foi a quarta vez que o ex-presidente falou para a corporação desde que deixou o comando do Palácio do Planalto. Ele já foi ouvido sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, sobre as joias da Arábia Saudita que não foram declaradas e ainda sobre as fraudes nos cartões de vacina dele, de seus familiares e assessores.
O que é investigado
Bolsonaro prestou depoimento no inquérito que investiga o senador Marcos do Val por articular suposta trama golpista com o ex-deputado Daniel Silveira. A conspiração investigada consistia em tentar gravar de maneira escondida o ministro Alexandre de Moraes e induzi-lo a falar algo que pudesse gerar alguma nulidade no processo eleitoral de 2022.
Marcos do Val é investigado pelos seguintes crimes:
- Divulgação de documentos sigilosos
- Tentativa, com emprego de violência ou grave ameaça, de abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais
- Tentativa de golpe de Estado
- Eventualmente, por integrar uma organização criminosa.
O que diz Do Val
Em fevereiro, Marcos do Val alegou ter sofrido coação do ex-presidente Jair Bolsonaro para se aliar a ele em um golpe de Estado — mas deu versões diferentes sobre o caso. Em razão das divergências, Alexandre de Moraes mandou abrir inquérito para verificar se o senador mentiu no depoimento à PF sobre o tal do plano golpista.
Em um primeiro momento, Marcos do Val afirmou que teria sido recebido por Bolsonaro numa reunião no Palácio da Alvorada e o então chefe do Executivo teria sugerido que o parlamentar gravasse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes. Segundo essa versão, Bolsonaro chamou Do Val à residência presidencial para dar a ele essa missão.
Depois de receber ligações do clã Bolsonaro, Do Val mudou o relato. Disse que a ideia não partiu de Bolsonaro, mas do ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).