Após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenar a abertura de um inquérito contra diretores do Google, em resposta à manifestação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a empresa de tecnologia decidiu contratar o ex-presidente Michel Temer para estabelecer uma comunicação mais efetiva entre a big tech e os parlamentares, visando construir uma relação mais harmoniosa. A informação foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo e confirmada pelo O Globo.
O ex-presidente foi designado para desempenhar o papel de "mediador" entre o Congresso e o Google. Sua função será facilitar o contato da empresa de tecnologia com os deputados, buscando estabelecer uma comunicação mais fluída e diminuir qualquer resistência da big tech em relação ao poder público. Temer não terá autonomia para falar em nome da empresa, mas sua missão será facilitar e promover o diálogo entre as partes envolvidas.
A contratação do ex-presidente já começou a render resultados. Sob sua mediação, diretores da empresa tiveram um primeiro encontro com o deputado federal Orlando Silva (PC do B-SP), que é o relator do projeto de lei 2.630/2020, conhecido como PL das Fake News. Após essa reunião bem-sucedida, ocorreu um segundo encontro entre o deputado e representantes da empresa, dessa vez sem a intermediação de Temer.
O deputado diz que tem conversas sistemáticas com a empresa e que vai continuar se reunindo com diretores Google durante as tratativas do PL para "discutir propostas".
Em nota, a big tech afirmou que contrata "agências e consultores especializados para ajudar na mediação dos nossos esforços de diálogo com o poder público para podermos levar nossas contribuições a políticos e parlamentares, especialmente, em questões importantes e técnicas como a construção de novas legislações".
Reação de Lira e inquérito no STF
A necessidade de encontrar um interlocutor para representar a empresa em Brasília ganhou urgência após a ação de Lira, que acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) com uma notícia-crime acusando o Google e o Telegram de realizar uma "ação contundente e abusiva" contra a aprovação do PL das Fake News. A campanha promovida por essas empresas gerou incômodo entre os deputados.
Na semana passada, o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, foi convocado a prestar depoimento à Polícia Federal (PF) como parte do inquérito em andamento no Supremo. Durante o depoimento, o executivo revelou que a empresa fez um pagamento de R$ 2 milhões em anúncios relacionados ao projeto de lei em questão, mas esclareceu que o objetivo não era expressar oposição ao texto em si. Além disso, ele negou veementemente que a empresa tenha interferido nos resultados de buscas para favorecer conteúdos próprios relacionados ao projeto.
Uma das principais objeções da empresa em relação ao projeto de lei é a questão da remuneração para empresas produtoras de conteúdo, um ponto de disputa que a big tech enfrenta tanto no Brasil quanto em diversos países ao redor do mundo. Na quinta-feira (29), o Google tomou a decisão de remover links de notícias canadenses após a aprovação de uma nova legislação no país que estabelece a remuneração das plataformas para as empresas de comunicação.