O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito para investigar o suposto envolvimento do ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) com os atos golpistas de 8 de janeiro — quando radicais invadiram e depredaram as dependências do Supremo, do Congresso e do Planalto. O ministro também deu aval para apuração sobre os R$ 257 mil apreendidos na casa do ex-parlamentar no início de fevereiro.
Silveira foi preso no dia 2 de fevereiro, logo depois de perder o foro por prerrogativa de função — o petebista não se reelegeu. Ele foi mandado de volta à prisão após descumprir medidas decretadas no bojo do processo em que foi condenado à pena de oito anos e nove meses por ataques antidemocráticos.
No mesmo dia em que a Polícia Federal (PF) capturou Silveira em Petrópolis, no Rio de Janeiro, agentes da corporação vasculharam a casa do ex-parlamentar. Durante a diligência, foram encontrados os R$ 257 mil em espécie, dentro de uma mochila. Esta, por sua vez, estava em um dos quatro veículos localizados na residência do ex-deputado. Nenhum carro estava registrado em nome dele.
Também no dia 2 de fevereiro, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) acusou Silveira de ter se aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro para pressioná-lo a participar de um golpe de Estado. O parlamentar deu duas versões sobre o caso.
Em um primeiro momento, Do Val afirmou que teria sido recebido por Bolsonaro numa reunião no Palácio da Alvorada, e o então chefe do Executivo teria sugerido que o parlamentar gravasse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Segundo essa versão, Bolsonaro chamou Do Val à residência presidencial para dar a ele essa missão.
Depois, Do Val mudou o relato. Disse que a ideia não partiu de Bolsonaro, mas de Daniel Silveira.
— O que ficou claro para mim foi o Daniel achando uma forma de não ser preso de novo, porque toda hora ele descumpria as ordens do ministro (Moraes). Ficou muito claro que ele estava num movimento de manipular e ter o presidente (Bolsonaro) comprando a ideia dele — afirmou em entrevista coletiva em seu gabinete no Senado.
À Polícia Federal, Do Val afirmou que Silveira teria proposto uma "missão importantíssima" que "entraria para a história": que ele fizesse uma gravação clandestina do ministro Alexandre de Moraes e "conduzisse a conversa" na tentativa de induzi-lo a falar "algo no sentido de ultrapassar as quatro linhas da Constituição". O objetivo seria anular o resultado da eleição e prender o presidente do TSE.
Do Val chegou a alegar que alertou sobre a ilegalidade do grampo e que Silveira teria respondido que "daria um jeito para tornar a gravação legal", sem especificar como. De acordo com o senador, Bolsonaro ficou calado durante toda a conversa, mas em nenhum momento "negou o plano ou mostrou contrariedade".
— A sensação era que o ex-presidente não sabia do assunto e que Daniel Silveira buscava obter o consentimento — narrou.