Em tom contundente, o interventor federal na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, afirmou que o ex-ministro da Justiça e ex-secretário da Segurança Pública do DF Anderson Torres esvaziou, de forma deliberada, a chefia da segurança em Brasília, para viabilizar os atos golpistas vistos no último domingo (8).
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (10), Cappelli ressaltou a diferença na segurança em Brasília entre a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro, e as invasões aos três poderes uma semana depois.
— No dia da posse do presidente Lula houve uma grande operação de segurança, e a posse com milhares de pessoas ocorreu com absoluta segurança. Foi um grande sucesso das forças de segurança no DF. Exatamente sete dias depois, acontece o que aconteceu no domingo. O que mudou em sete dias? Do domingo do sucesso da operação de segurança para o domingo do fracasso? Eu te respondo: mudou o secretário de segurança do Distrito Federal. O senhor Anderson Torres assumiu na segunda-feira, no dia 2, a Secretaria de Segurança do Distrito Federal, exonerou todo o comando da Secretaria de Segurança e viajou para o Exterior. Então o que aconteceu aqui em Brasília foi um ato criminoso. Por isso foi decretada (sic) a prisão dele. Porque o que aconteceu foi sabotagem — afirmou Cappelli.
Ainda no domingo, Anderson Torres foi exonerado do cargo pelo governador do DF, Ibaneis Rocha, e a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu a prisão dele. O pedido da AGU será analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Torres está nos Estados Unidos, de férias com a família. Em comunicado postado nas redes sociais, o ex-ministro afirmou que viveu no domingo "o dia mais amargo" de sua vida pessoal e profissional e negou conivência com o ocorrido.
Na entrevista desta terça-feira, o interventor Ricardo Cappelli ainda disse que as manifestações golpistas não foram espontâneas, mas financiadas por pessoas "que atentam contra o Estado democrático de direito".
— O que podemos adiantar no momento é que o que aconteceu não foi algo espontâneo, de uma mobilização coletiva, não. O que aconteceu foi algo estruturado, planejado, financiado por pessoas que atentam contra o Estado democrático de direito — apontou o interventor.
Cappelli ainda reiterou que todos os participantes serão identificados, e que um novo balanço do número de presos no ginásio da Academia de Polícia Federal será divulgado ainda na tarde desta terça-feira (10):
— O que aconteceu foi algo planejado, estruturado, financiado por empresários e todos serão identificados e punidos. O povo brasileiro pode ter certeza que o que aconteceu no domingo não ficará impune.
Uma das frentes de investigação está sob a jurisdição da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
— Nós tínhamos em torno de 40 ônibus apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal, que está conduzindo esse trabalho. É um trabalho de perícia de identificação, não só das pessoas, mas também os ônibus são peças fundamentais para identificar os financiadores. Quem contratou esses ônibus? Nós vamos apurar tudo isso e, em breve, acredito que até o final do dia, a PRF terá um balanço dessa operação — revelou o interventor.
Para Ricardo Cappelli, na origem dos atos golpistas está o desrespeito ao resultado das eleições:
— O presidente Lula perdeu as eleições em 1989, ele perdeu as eleições em 1994, e perdeu as eleições em 1998. A atitude do presidente Lula foi voltar pra casa e esperar passar os quatro anos para que ele voltasse a disputar as eleições. Essa não tem sido postura do derrotado nas últimas eleições.