A divulgação de informações sobre os gastos do ex-presidente Jair Bolsonaro e equipe no cartão corporativo da Presidência da República expôs, entre outros pontos, valores despendidos com alimentação e viagens.
O governo Bolsonaro gastou ao menos R$ 27,6 milhões nos cartões ao longo do mandato. Os dados incluem o cartão do ex-presidente e outros usados pela equipe dele — constam no sistema 22 CPFs de servidores responsáveis pelas compras.
As despesas incluem hospedagens em hotéis, alimentação e compras pessoais. Os maiores gastos da lista são os que envolvem estadia, entre eles o pagamento de hospedagem de R$ 312 mil no Guarujá, em São Paulo, no início de janeiro de 2021.
No Rio Grande do Sul, nos dias 9 e 10 de julho de 2021, quando o presidente participou de motociatas em Porto Alegre e na serra gaúcha, houve gastos de cerca de R$ 166 mil em hospedagem, combustível e alimentação. Apenas com hotéis, foram R$ 134 mil.
No último roteiro no Estado, em 2 e 3 de setembro de 2022, em meio à campanha eleitoral e à Expointer, não constam registros de gastos com o cartão corporativo em estabelecimentos gaúchos. Contudo, aparecem compras em outros locais no período, como Brasília, em casa de doces e distribuidora de carnes, por exemplo.
Entre as despesas de alimentação que aparecem na lista divulgada nesta quinta-feira, a equipe do ex-presidente gastou quase R$ 25 mil em uma churrascaria de Porto Alegre, em oito visitas ao local entre março de 2019 e novembro de 2020. Uma das refeições, em outubro de 2020, custou mais de R$ 10 mil na Churrascaria Garcias.
Os locais que constam na relação de dados podem ser identificados pelo nome e pelo CNPJ.
O cartão corporativo tem como orientação o uso para gastos considerados fundamentais do governo, principalmente durante viagens ou deslocamentos. Mas além dos custos com hospedagens e alimentação, aparecem entre as despesas de Bolsonaro notas em um pet shop de Brasília, somando R$ 1,8 mil.
Exemplos de gastos
Entre as despesas do ex-presidente, chamam atenção compras em valores iguais em um mesmo estabelecimento. Uma delas é uma lanchonete localizada na cidade de São Paulo, onde o cartão corporativo foi passado pelo menos 10 vezes para compras de exatos R$ 9 mil cada.
Os gastos nessa lanchonete somam mais de R$ 626 mil. Entre os pratos, o local serve lanches e bufê de comida caseira.
Outro exemplo é um restaurante de Boa Vista, em Roraima, chamado Sabor de Casa. Uma única compra custou R$ 109 mil.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o estabelecimento fornece marmitas promocionais a R$ 20 e também faz entregas. A data da nota coincide com a ocasião em que Bolsonaro esteve na cidade para agenda sobre a situação de refugiados vindos da Venezuela.
Há ainda gastos com padarias, onde algumas compras passam de R$ 10 mil. Uma panificadora de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, recebeu mais de R$ 61 mil em compra — que consta no relatório como "fornecimento de alimentos".
Já uma padaria localizada no Rio de Janeiro se destaca pela quantidade de notas: foram 20 visitas ao longo do mandato em filial da carioca Santa Marta, com gastos entre R$ 880 e R$ 55 mil. O estabelecimento recebeu R$ 362 mil do cartão corporativo da Presidência.
Dados vêm à tona
As informações divulgadas incluem lançamentos de notas fiscais até o dia 19 de dezembro de 2022.
Os dados foram publicados pelo governo federal na semana passada. O site Fiquem Sabendo havia feito um pedido, por meio da Lei de Acesso à Informação, para que os gastos se tornassem públicos antes ainda do fim do mandato de Bolsonaro. No entanto, não obteve resposta.
Com a troca de gestão, segundo o próprio Fiquem Sabendo, os dados se tornam públicos. Desde 6 de janeiro, os relatórios de gastos no cartão corporativo de Bolsonaro — e de outros ex-presidentes, desde o primeiro mandato de Lula — podem ser acessados no site da Secretaria-Geral do governo federal (neste link).