A pauta oficial do encontro de comandantes das PMs de todo o Brasil com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, era o balanço das ações relativas a eleições. Mas o tema principal da reunião, realizada em Brasília nesta quarta-feira (23), foi mesmo os protestos que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) realizam para tentar impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As manifestações, que incluem bloqueios de vias próximas a quartéis do Exército e de estradas, estão centradas em apelos para que as Forças Armadas impeçam Lula de governar.
Moraes considera que esses protestos são inconstitucionais — porque pregam que um eleito não tome posse — e por isso determinou que sejam dissolvidos. Isso tem sido feito, lenta e gradualmente, explicaram os coronéis. São considerados atos antidemocráticos porque não reconhecem o resultado da eleição e pedem intervenção militar.
Todos tiveram oportunidade de falar no encontro, realizado na sede do TSE. Inclusive os oficiais de governos aliados politicamente a Bolsonaro, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Os representantes de dois Estados governados por simpatizantes de Bolsonaro, Paraná e Santa Catarina, não aceitaram o convite de Moraes e não apareceram, além do comandante da PM do Rio Grande do Norte, que está com covid-19. Os demais estavam lá.
O primeiro a falar foi o comandante da PM da Bahia e presidente do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais, coronel Paulo Coutinho. Ele afirmou que o encontro serve para reforçar a maturidade institucional no país. E criticou os bloqueios de estradas.
O comandante da Brigada Militar gaúcha, coronel Cláudio Feoli, foi o quarto a relatar a situação. Conforme antecipado por GZH, a BM optou por cumprir as ordens de Moraes de forma a evitar traumas. A palavra de ordem é diplomacia. Todos os bloqueios nas estradas foram desfeitos sem necessidade de uso da força. A exceção aconteceu em Novo Hamburgo, mas por parte da PRF, que usou uma tropa de choque para remover um piquete que impedia o tráfego de veículos por horas, logo depois das eleições. Nesse momento não existem bloqueios de rodovias no Rio Grande do Sul.
Com relação a manifestações próximas a quartéis do Exército, têm sido desestimuladas, mas os ativistas não são removidos à força. Uma das táticas é impedir o uso de caminhões de som e colocação de banheiros.
— Como muitos manifestantes são idosos, o diálogo é a palavra de ordem — resume o coronel Feoli.
Parece ter funcionado, tanto que o número de manifestantes diminuiu cerca de cem vezes em relação aos primeiros dias pós-eleição, calcula a BM. Moraes respondeu a Feoli que entende perfeitamente a situação. E até recordou um episódio em que, quando era secretário da Segurança Pública de São Paulo, teve de mandar retirar pessoas que tinham ocupado escolas. Apesar da determinação judicial nesse sentido, a ordem foi cumprida aos poucos, após muita negociação.
Alguns comandantes de PMs relataram dificuldades de desmanchar piquetes de caminhoneiros, sobretudo no Centro-Oeste. E, seguindo o conselho de Feoli, também recomendaram diplomacia. A reunião terminou após o relato de cada um. Moraes anunciou a concessão, ao colegiado dos comandantes de PMS, da medalha da Ordem do Mérito do TSE e agradeceu os esforços dos poliiciais, que ele considerou "bem sucedidos", para trazer calma ao país durante e após as eleições.