Presidenciáveis manifestaram preocupação com uma possível escalada da tensão nas eleições deste ano e foram às redes, no domingo (10), para condenar a violência durante a campanha, que só começa oficialmente em agosto. O estopim para as manifestações foi a morte do guarda municipal Marcelo Arruda, assassinado em Foz do Iguaçu (PR), no sábado (9), durante a própria festa de aniversário — com decoração inspirada no PT.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) cobrou a investigação sobre a morte do guarda municipal e ainda responsabilizou a esquerda por episódios de violência no país.
"Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos", escreveu Bolsonaro em uma mensagem no Twitter, replicando uma declaração dada por ele em outubro de 2018, durante a campanha presidencial, em função da morte do mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, assassinado a facadas em Salvador.
Bolsonaro rebateu ainda as alegações de que a morte de Arruda foi provocada por seu discurso.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também se pronunciou pelas redes sociais e prestou solidariedade às famílias — a postagem foi feita antes de a polícia paranaense retificar a informação de que o assassino de Arruda, Jorge José da Rocha Guaranho, tinha morrido.
"Uma pessoa, por intolerância, ameaçou e depois atirou nele, que se defendeu e evitou uma tragédia maior. (...) Meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos e companheiros de Marcelo Arruda", escreveu.
Na publicação, Lula também pediu "compreensão e solidariedade com os familiares" de Guaranho e sugeriu que ele foi influenciado pelo "discurso de ódio" do presidente Jair Bolsonaro.
Já o pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) disse que o ódio político precisa "ser contido", citando o caso do Paraná como fruto de uma "guerra absurda, sem sentido e sem propósito".
"O ódio político precisa ser contido para evitar que tenhamos uma tragédia de proporções gigantescas", escreveu.
Em nota à imprensa, a senadora Simone Tebet (MDB) afirmou que os episódios de violência refletem o acirramento da polarização política no país, fenômeno ao qual sua pré-candidatura se coloca como alternativa.
"Lamento profundamente as mortes violentas em Foz do Iguaçu (a postagem foi feita antes de a polícia confirmar que Guaranho está vivo). Me solidarizo com as famílias de ambos. Mas o fato é que esse tipo de situação escancara de forma cruel e dramática o quão inaceitável é o acirramento da polarização política que avança sobre o Brasil. Esse tipo de conflito nos ameaça enormemente como sociedade. É contra isso que luto e continuarei lutando", afirmou a presidenciável.
O deputado federal André Janones (Avante) afirmou considerar inexplicável que a "paixão" por convicções políticas seja capaz de causar tragédias como a de Foz do Iguaçu.
"O debate ideológico sem qualquer base racional leva à tragédia que vamos lamentar profundamente. Ninguém vai conseguir explicar essa paixão que leva um ser humano a odiar o outro por convicções políticas diferentes. Hoje nós vamos lamentar, desejar condolências às famílias", publicou ele.
Já o pré-candidato Luciano Bivar (União Brasil) descreveu como "doença" a causa de episódios como esse.
— Inadmissível onde chegamos. Esta doença "política" contaminou nossa gente, até aqueles que amamos lá na casa da esquina — afirmou.
Outros episódios de ameaça e intimidação a eventos e pessoas relacionadas à pré-campanha presidencial ocorreram nas últimas semanas. Ao menos dois atos políticos do PT registraram ocorrências contra os participantes por parte de críticos ao partido.
Em um deles, no Rio de Janeiro, uma bomba caseira com fezes foi lançada contra o público que assistia ao ato do qual participava o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva, na última quinta-feira (7). Em outra ocasião, no mês passado, um drone despejou um líquido malcheiroso sobre apoiadores do ex-presidente em Uberlândia (MG).
Recentemente, o juiz Renato Borelli, responsável pela ordem de prisão preventiva contra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, passou a relatar o recebimento de ofensas e ameaças em suas redes sociais. Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), insatisfeitos com a condenação, fizeram comentários xingando o magistrado e acusando-o de favorecer a esquerda. Como mostrou a reportagem, porém, ele já havia emitido condenações a políticos de outros partidos antes, inclusive do PT. Na última quinta-feira, o carro de Borelli foi atingido por um artefato contendo terra, ovos e estrume enquanto o juiz se locomovia em Brasília.