Por 39 votos a favor, seis contra e uma abstenção, a cúpula do PSDB aprovou nesta quinta-feira (9), a pré-candidatura da senadora Simone Tebet, do MDB, à presidência. Após mais de seis meses de negociação, a aliança que reúne PSDB, MDB e Cidadania põe a terceira via na disputa presidencial, mas ainda há muitas divergências para a montagem dos palanques nos Estados.
O nome de Simone passou pelo crivo da reunião ampliada da Executiva Nacional do PSDB, com a participação das bancadas da Câmara e do Senado. Na composição para apoiar o MDB, os tucanos pretendem indicar mais adiante o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) para vice da chapa.
Os deputados Aécio Neves (PSDB-MG) Alexandre Frota (SP), Paulo Abi Ackel (MG), Eduardo Barbosa (MG), Rossoni (PR) e o senador Plínio Valério (AM) votaram contra o apoio a Simone. O ex-prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan se absteve.
Aécio liderou a ala do partido contra o lançamento de Simone, sob o argumento de que desejava candidatura própria, mas foi derrotado.
— Seria uma bênção se a candidatura da senadora Simone pudesse se fortalecer e ocupar esse espaço da terceira via, mas eu vejo que ela está tendo dificuldade no seu próprio partido — disse ele, numa referência às divisões no PSDB.
O racha na seara tucana ficou evidente desde as prévias do partido, em novembro do ano passado, quando o então governador de São Paulo João Doria venceu. No mês passado, porém, Doria foi pressionado a desistir da disputa porque a cúpula do PSDB dizia que sua alta rejeição atrapalhava a candidatura do governador Rodrigo Garcia a um novo mandato. São Paulo é governado pelo PSDB desde 1995 e é a principal aposta do partido para as eleições.
— Todos os votos sim (para Simone) foram pelo possível. A alma do PSDB é pela candidatura própria, mas entendemos que o PSDB não existe como fim em si próprio. Existe como fim em permitir o que é melhor para a alternativa dos brasileiros — disse o presidente do PSDB, Bruno Araújo.
O movimento pela terceira via, também batizado pelo grupo de "centro democrático", foi anunciado em meados do ano passado com o objetivo de quebrar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas. Até agora, porém, muitos nomes ficaram pelo caminho, como o do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (União Brasil) e o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD).
— Nesse momento somos convocados a oferecer uma alternativa. A alternativa caminha para a unidade e a unidade decidida com essa movimentação de hoje é fortalecer essa aliança entre Cidadania, PSDB e MDB com o nome de Simone Tebet e com o nosso vice — argumentou Araújo.
O PSDB e o MDB, porém, ainda se estranham na montagem dos palanques em alguns Estados, como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Pará, Pernambuco e Mato Grosso do Sul.
O presidente do PSDB admitiu divergências nos Estados, mas disse que isso não atrapalha a aliança nacional.
— As eleições nacionais não verticalizam todo o processo. Vamos ter Estados onde o próprio PSDB vai ter dificuldade de votar com Simone. Ou a própria Simone vai ter dificuldade de receber o apoio do próprio partido. O que vai valer é o conjunto dessa unidade — afirmou Araújo.
Ameaça em São Paulo
Em Alagoas, por exemplo, uma possível aliança entre o MDB e o PSDB também ameaça um acordo feito em São Paulo, Estado considerado prioridade para os tucanos. A deputada estadual Jó Pereira (PSDB-AL), prima do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), se movimenta para ser candidata a vice na chapa do senador Rodrigo Cunha (União Brasil-AL). Uma ala tucana, no entanto, negocia apoio à pré-candidatura de Paulo Dantas (MDB), afilhado político do senador Renan Calheiros (MDB-AL), ao governo alagoano.
Lira já mandou um recado nas redes sociais e disse que, se o PSDB embarcar na candidatura de Dantas, o Progressistas e o União Brasil não apoiarão Rodrigo Garcia em São Paulo.
— O Progressistas e o União Brasil estão firmes e unidos em fazer cumprir acordos políticos firmados com o PSDB em diversos estados. Quebrar o que foi acordado em AL terá consequências à aliança, principalmente em SP. Na política, o cumprimento de acordo é fundamental à democracia — afirmou Lira nas redes sociais.
Araújo minimizou o atrito e disse que um acordo pode ser construído.
— A manifestação do presidente Arthur nada tem a ver com a manifestação da nossa candidatura presidencial. É um problema de aliança local entre o PSDB, União Brasil e o PP. Vamos estar dedicados a encontrar uma convergência — afirmou.
Para a reafirmar a aliança pela reeleição de Rodrigo Garcia, Araújo lembrou que o PSDB dá suporte ao pré-candidato do União Brasil ao governo da Bahia, ACM Neto.
— Nós temos dois Estados símbolos: São Paulo para o PSDB e a Bahia para o União Brasil. Na Bahia nós votamos em ACM Neto. Tenho certeza que não vai deixar de acontecer a mesma coisa em São Paulo — disse.
Há uma ala do MDB, principalmente no Nordeste, que já apoia abertamente Lula e outra, no Sul, que está mais vinculada a Bolsonaro. A cisão também ocorre no PSDB.
Assim como Aécio, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo defendeu a candidatura presidencial de Leite.
— Não há nada mais legítimo do que colocar o segundo colocado nas prévias, que teve mais de 40% — afirmou. Perillo esteve na reunião, mas não votou porque não faz parte da Executiva. Simone e Tasso participaram do encontro de forma virtual.
A decisão do PSDB ocorre mesmo ainda sem um acordo costurando o apoio dos emedebistas à candidatura de Eduardo Leite ao governo do Rio Grande do Sul. O deputado estadual Gabriel Souza (MDB) ainda mantém a pré-candidatura ao Palácio Piratini.